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Bernardinho fala das decisões mais difíceis que tomou na carreira

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Bernardinho revelou sobre tomadas de decisão durante o Congresso Internacional de Voleibol (Foto: Thiago Chas/Divulgação)

 

Por Vanessa Kiyan
25 de julho de 2019

 

Em 23 anos à frente das seleções feminina (de 1993 a 2000) e masculina (2001 a 2016) do Brasil, o técnico Bernardinho passou por grandes desafios para construir grupos campeões. Quando chegou à equipe das mulheres, o Brasil ainda não era uma das principais potências do vôlei feminino. Nem Bernardinho era este técnico multicampeão. Por isso, foi preciso trabalhar a relação de confiança com o grupo.

Durante o 1° Congresso Internacional de Voleibol, que teve início nessa quarta-feira (24), em São José dos Pinhais (PR), o treinador do Sesc-RJ lembrou um episódio que viveu com a atacante Márcia Fu, tida como uma jogadora difícil. “A Márcia Fu era uma jogadora talentosa, brigona. Quando ela estava jogando no BCN, do Guarujá, eu fui ao hotel delas no Rio – o time dela estava jogando na cidade – e disse para a Márcia que iria convocá-la. ‘Vou te dar uma chance’. Ela sabia que não podia mais pisar na bola. Depois, em uma segunda-feira, ela não apareceu no treino. Pode acontecer com qualquer um. Eu já cheguei atrasado a treino porque o despertador não tocou, eu não ouvi. Ela chegou à tarde e elaborou uma história. No meio da história, ela falou: ‘Bernardo, perdi a hora, te peço desculpas’. Eu disse: ‘Márcia, isso pode acontecer com qualquer um. Se você só tivesse contado essa história toda, estaria fora hoje mesmo.’ Ela pensou: ‘Eu não vou enganar este cara porque ele não me engana.’ A transparência é isso.”

Depois da passagem de sucesso pela seleção feminina, com a qual conquistou duas medalhas de bronze olímpicas, em Atlanta-1996 e Sydney-2000, e também uma prata no Campeonato Mundial de 1994, Bernardinho migrou para a seleção masculina. Desta vez, chegou com status de técnico vitorioso e com a missão de recolocar o time nacional dos homens na rota do pódio.

 

 

Bernardinho assumiu a seleção masculina em 2001, logo após a gestão de Radamés Lattari, e levou consigo conceitos do jogo das mulheres. “Acreditava que era possível defender mais, como acontece no feminino. A seleção masculina tinha um quê de feminino também no passe. Acho muito bacana usar elementos dos dois naipes, como o Lucão bater uma china. Fizemos isso pensando no feminino.”

Os resultados apareceram rápido. Em sua primeira competição, foi campeão da Liga Mundial, um título que os homens não traziam para o país desde 1993. No mesmo ciclo, veio o ouro olímpico, em Atenas-2004. E veio também um dos primeiros grandes desafios como gestor dos homens. Ídolos da primeira geração dourada do vôlei brasileiro, Maurício e Giovane foram parar na reserva com a ascensão de Ricardinho e Giba, os jovens talentos da época.

“Quem acreditava que o Ricardinho fosse se transformar naquele levantador? Ele era gordinho, maluquinho, era o último jogador contratado pelos times. Mas ele tinha uma audácia. O Maurício entendeu que teria outra função, de dar condição a um cara que estava melhor”, lembrou Bernardinho durante sua apresentação no 1° Congresso Internacional de Voleibol.

E foi com o mesmo Ricardinho que Bernardinho viveu um dos momentos mais polêmicos à frente da seleção masculina. Em 2007, o treinador cortou o levantador às vésperas dos Jogos Pan-americanos do Rio. Para o comandante, o camisa 17 do Brasil não estava alinhado com a cultura do grupo. Ricardinho colocava à frente o “eu” ao invés do “nós”.

 

Ricardinho foi cortado por não estar alinhado com a cultura do time (Foto: Divulgação/FIVB)

 

Bruninho, então com 21 anos, foi chamado. E, embora campeão pela Cimed, conviveu com críticas por ser filho do técnico. Chegou a receber vaias da própria torcida brasileira durante os jogos no ginásio do Maracanãzinho. Cinco anos depois, e com Bruninho consolidado como o levantador titular da equipe, Ricardinho teve outra chance com Bernardinho. A segunda passagem, porém, foi de pouco brilho.

“Este foi o corte mais polêmico que eu tomei na minha vida. Foi um momento muito difícil comunicar a saída dele. Voltei a chamar o Ricardinho em 2012, mas percebi que o realinhamento de cultura não aconteceu cinco anos depois. O jeito dele é assim. Não tem relação nenhuma com caráter, apenas com o jeito dele mesmo”, disse o líder do Sesc-RJ.

Na edição londrina, o Brasil deixou escapar uma medalha de ouro que parecia certa. Depois de abrir 2 a 0 na decisão olímpica, e estar vencendo o terceiro set por 21 a 19, o Brasil caiu de produção. E foi uma queda tão brusca que a Rússia virou não só a terceira parcial, como ainda levou as duas seguintes e se sagrou campeã. Os meses após Londres-2012 foram, além de dolorosos, de muita análise.

Bernardinho leu relatórios e mais relatórios para entender por que a seleção não conseguiu mais desempenhar o mesmo voleibol do 21 a 19 em diante. Para quem defende que o erro faz parte do processo, mas que para vencer não se pode repetir os mesmos erros, novas decisões foram tomadas para a Rio-2016. E, desta vez, o técnico passou pela decisão mais difícil desde que assumiu o time.

 

Em Londres-2012, veteranos sentiram a maratona de jogos (Foto: Divulgação/FIVB)

 

Em Londres-2012, a seleção vivia uma mescla de talentos. Símbolos da geração mais vitoriosa do vôlei nacional, os ponteiros Dante e Giba estavam perto da despedida. Já o oposto Wallace, uma das novas apostas, começava a ganhar espaço. Parecia a fórmula de sucesso. Porém, quando a equipe precisou dos jogadores mais experientes, fisicamente, eles não corresponderam. Bernardinho precisava mudar.

“Eu não podia repetir o erro que tinha cometido em 2012. Poderia perder por inexperiência, mas não pelo mesmo erro. O corte mais difícil que eu passei foi o do Murilo, em 2016. Apesar do jogador excepcional que é, ele não tinha condições físicas para a maratona de uma Olimpíada. E nosso pensamento foi verdadeiro. Em que posição o Murilo joga hoje?”

Se pesou a performance no caso de Murilo, que hoje atua como líbero, na convocação de Serginho foi diferente. O feeling do treinador ganhou a disputa do tangível contra o intangível. “Antes das Olimpíadas, os números do Tiago Brendle eram melhores que os do Escada (Serginho). Mas, com todo o respeito ao Tiago, quem você vai levar? Os intangíveis também são muito importantes.”

 

Bernardinho levou Serginho para a Rio-2016, enquanto Murilo acabou cortado (Foto: Divulgação/FIVB)

 

Na Rio-2016, o comandante não tinha nas mãos a melhor geração. Os times dos Jogos Olímpicos de Pequim-2008 e Londres-2012, embora tivessem sido medalhistas de prata, eram bem mais talentosos. Mas, fisicamente, foi uma equipe que aguentou a corrida olímpica. Também suportou a pressão para sair do “quase” e recolocar o país no alto do pódio.

“Era o maior desafio jogar uma Olimpíada em casa. Precisávamos jogar mais do que nunca ou íamos morrer individualmente. Aquela era a geração menos talentosa, mas eles tinham determinação, trabalhavam duro. Eles queriam provar que eram representantes dignos de um esporte vitorioso”, lembrou Bernardinho. “O talento só funciona se houver trabalho.”

 

 

Também na Rio-2016, na última rodada da fase classificatória, Bernardinho viveu o jogo mais tenso da carreira. Apenas o vitorioso de Brasil e França seguiria adiante. Uma seleção favorita à medalha já seria mandada embora na primeira fase, sem direito a disputar o mata-mata. Poderia ter sido a maior tragédia da carreira de Bernardinho, mas virou o caminho para seu bicampeonato olímpico.

“O jogo mais tenso da minha vida foi a partida com a França em 2016. Se tivéssemos perdido aquela partida, teríamos terminado em nono a Olimpíada. Imagina terminar em nono uma Olimpíada em casa. Colocariam uma placa: ‘aqui jaz Bernardinho’. A França era uma das favoritas. Os dois times estavam na mesma pressão, precisavam ganhar para seguir, mas nós, em casa, com uma pressão gigante.”

O Brasil ganhou da França de 3 a 1. Depois, eliminou a Argentina nas quartas de final. A Rússia foi a vítima da semifinal. O último ato de Bernardinho como treinador do Brasil foi contra a Itália, curiosamente, a mesma Itália que lhe rendeu o primeiro ouro em Atenas-2004.

 

Bernardinho: “O jogo mais tenso da minha vida foi contra a França, em 2016” (Foto: Thiago Chas/Divulgação)

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