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Incertezas entre as seleções em tempos de quarentena

Técnicos se veem num cenário de incertezas provocado pelo coronavírus (Fotos: Divulgação/FIVB)

 

Por Sidrônio Henrique
20 de março de 2020

 

Por causa da pandemia do coronavírus, a Liga das Nações (VNL) foi adiada pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB) e ainda está sem nova data, sabendo-se apenas que deverá ser realizada depois dos Jogos Olímpicos. Estes, por sua vez, segundo especulações da mídia internacional, dificilmente devem ser mantidos no período de 24 de julho a 9 de agosto. O Comitê Olímpico Internacional (COI) admitiu esta semana que “não há uma solução ideal”, referindo-se ao calendário, porém ainda pensando em manter o evento neste ano. Nos últimos dias, os pedidos de adiamento se multiplicaram.

Até essa quinta-feira (19), a Covid-19 havia matado mais de 9 mil pessoas em todo o mundo e, conforme levantamento da universidade americana Johns Hopkins, contabilizava 220 mil pessoas infectadas ao redor do globo, causando impacto na economia e em outras atividades. No esporte, praticamente todas as modalidades sofreram alterações, incluindo ligas domésticas e torneios internacionais, começando com paralisações curtas ou disputas com portões fechados ao público, e chegando a suspensões prolongadas ou cancelamentos – casos das Superligas masculina e feminina, respectivamente.

A indefinição no calendário e a dificuldade em realizar amistosos e até mesmo treinamentos, pela necessidade de isolamento e restrições a viagens, trouxeram problemas extras para os técnicos das seleções que irão participar das duas competições. A Liga das Nações serviria como treinamento para Tóquio-2020. Com seu adiamento para depois dos Jogos Olímpicos, criou-se não apenas um impasse na preparação das equipes, pois sua manutenção nesta temporada significa invadir o calendário dos clubes.

O Saque Viagem conversou com alguns dos treinadores dessas seleções para saber como pretendem contornar esses empecilhos.

 

Speraw: “Se não for possível disputar amistosos, os times com os maiores talentos estarão em grande vantagem em Tóquio”

 

VANTAGEM
“Muita coisa está mudando rapidamente, todos nós estamos tentando encontrar soluções no dia a dia. Se a Olimpíada continuar como programada, gostaríamos de fazer amistosos como preparação para Tóquio-2020. Todas as equipes desejam competir para alcançar o desempenho máximo a partir do final de julho”, disse ao site o técnico da seleção masculina dos Estados Unidos, John Speraw. Diante da perspectiva de uma preparação incompleta, ele fez uma observação importante, sem citar times: “Como viagens aumentam o risco de contrair a doença, se não for possível disputar amistosos, as equipes com os maiores talentos estarão em vantagem em Tóquio.”

“Estou conversando com algumas seleções, temos que aguardar mais um pouco para ver como tudo vai se ajustar, para que a gente possa adaptar cada vez mais o nosso planejamento. A gente precisa treinar, precisa fazer esses amistosos, seja dentro do Brasil, seja fora, com seleções de peso, que possam nos ajudar a escolher o nosso melhor time, a desenvolver esse time para disputar os Jogos Olímpicos. Logicamente, pensando na saúde das jogadoras, na melhor condição possível, sem correr nenhum tipo de risco”, comentou José Roberto Guimarães, treinador da seleção brasileira feminina, que inicialmente tinha na VNL seu laboratório neste final de ciclo olímpico. Ele não especificou com quais comissões técnicas estrangeiras tem conversado. A Superliga feminina 2019/2020 foi cancelada nessa quinta-feira (19), portanto ainda não houve oportunidade de definir uma data para a convocação do time do Brasil.

 

Zé Roberto: “Estou conversando com algumas seleções, temos que aguardar mais um pouco para ver como tudo vai se ajustar”

 

MONITORAMENTO
Seu colega Marcos Kwiek, que comanda a equipe feminina da República Dominicana, lamentou bastante. “Toda a preparação está muito prejudicada, a gente vai ter que se adaptar a essa situação. Primeiro, saber como vão se comportar as ligas onde temos jogadoras, se vão encerrar como ocorreu na Alemanha, ou se vão continuar na temporada morta da Liga das Nações, se vão usar aquelas datas para a continuidade dos campeonatos nacionais. Vou monitorar isso para saber quando as atletas retornam.”

“Todas as equipes terão que elaborar uma nova programação, tanto para treinamento quanto para competição. Parece que muitos times têm interesse em disputar amistosos. Obviamente, essas partidas exigem viagens internacionais e ninguém sabe como será isso nos meses mais próximos da Olimpíada”, falou ao Saque Viagem o treinador da seleção americana feminina, Karch Kiraly.

 

Kiraly se preocupa em elaborar uma nova programação para os treinamentos

 

OTIMISMO
Há quem não se importe tanto com o adiamento da Liga das Nações. É o caso do sérvio Igor Kolakovic, técnico da seleção masculina do Irã. “Honestamente, a VNL seria um grande obstáculo para Tóquio-2020. Com tantos jogos e viagens longas, não é uma situação ideal para uma boa preparação. Se uma equipe jogasse as finais, só teria 20 dias até o primeiro jogo em Tóquio. Isso não é adequado”, declarou ao site. “Sem a VNL antes, as equipes terão tempo suficiente para preparar os jogadores para a Olimpíada, jogando o número ideal de amistosos. Espero que essa pandemia pare e que todos tenham as condições normais para jogar o melhor possível em Tóquio”, completou Kolakovic, esbanjando otimismo e esquecendo-se das restrições para viagens no caso dos amistosos.

 

 

Um dos países mais afetados pela pandemia do coronavírus, o Irã divulgou nessa quinta-feira (19) que a Covid-19 causa uma morte a cada dez minutos no país. A cada hora, 50 iranianos contraem a doença. Os números foram anunciados pelo Ministério da Saúde persa.

Cautela norteia a visão de Glenn Hoag, treinador da seleção canadense masculina. “Planejaremos de acordo com as informações que temos. Isso é tudo que posso fazer. Com as restrições para viajar e a possibilidade de que os locais de treinamento sejam fechados há muita incerteza. Essa é uma grande interrupção e não sabemos quanto tempo vai durar. Nossa prioridade deve ser a criação de um ambiente seguro para nossos atletas e comissão técnica”, afirmou.

 

Kolakovic não se importa com o adiamento da VNL: “Seria um grande obstáculo para Tóquio-2020”

 

PRUDÊNCIA
Renan Dal Zotto, técnico do time masculino do Brasil, vai na mesma linha. “Pelo que falam os especialistas, ainda estamos no começo dessa epidemia e qualquer planejamento, algo que eu prezo tanto, fica comprometido neste momento. Claro que estamos todos da comissão técnica atentos a tudo o que está acontecendo e ao que virá, para refazer a programação visando os Jogos Olímpicos, que ainda estão mantidos.”

O italiano Stefano Lavarini, que comanda a seleção feminina da Coreia do Sul, se vê diante de um impasse. “Temos que esperar os desdobramentos em torno dessa doença para avaliar como se preparar, se teremos a possibilidade de organizar amistosos. O ideal sempre é treinar muito e ter também a possibilidade de testar o jogo e a evolução do time, mas nesse caso está acontecendo algo que nunca enfrentamos. Eu não tenho ideia nenhuma do que vai acontecer no mundo em três meses.”

 

Renan: “Estamos no começo dessa epidemia e qualquer planejamento fica comprometido”

 

LIGA DAS NAÇÕES APÓS TÓQUIO
Faz sentido manter a VNL depois da Olimpíada? “A Liga logo após a Olimpíada será um momento de testar jovens, de dar oportunidade maior a uma nova geração, a um novo elenco, já que será um novo ciclo olímpico”, comentou Zé Roberto, que em julho do ano passado anunciou que deixará o comando da seleção feminina do Brasil após Tóquio-2020, mas que diante da possibilidade de realização da Liga das Nações ainda em 2020 talvez seja o técnico nesse torneio. “Não sei se estarei ou não na VNL”, afirmou ao Saque Viagem.

Lavarini também encara a VNL após a Olimpíada como um investimento em jovens talentos. “Não acho ruim, não. É um novo ciclo. Muitas seleções iriam com times bem fracos antes dos Jogos Olímpicos para se prepararem melhor para Tóquio, então poderia ser mais esvaziada antes do que depois. Nem acho que venha a ser cancelada, movimenta muito dinheiro, é importante para a modalidade.”

“A VNL depois dos Jogos Olímpicos vai ser uma competição atípica. Se a Olimpíada for mantida nas atuais datas, depois dela algumas jogadoras se despedem de suas seleções. A importância que a Liga das Nações teria antes de Tóquio muda um pouco. Acho que os técnicos vão acabar usando a VNL para lançar novas jogadoras. Mas vai depender muito das regras que a FIVB estabelecerá. Por exemplo, podem impor que pelo menos 80% das atletas que participaram da Olimpíada joguem a VNL. Enfim, é uma competição comercial, é muito importante que os times sejam competitivos”, ponderou Marcos Kwiek.

 

Glenn Hoag: “Essa é uma grande interrupção e não sabemos quanto tempo vai durar”

 

OPORTUNIDADE
John Speraw engrossa a fileira dos que pensam no ciclo olímpico seguinte: “A Liga das Nações é uma grande competição. Não sei quanto à presença dos jogadores veteranos. Independentemente disso, seria uma oportunidade para as equipes melhorarem e potencialmente olharem para jovens talentos, o que geralmente acontece logo após as Olimpíadas. Todo mundo provavelmente usaria isso como uma chance de começar cedo no próximo ciclo.”

No entanto, seu compatriota Karch Kiraly mantém-se cético. “Seria extremamente difícil organizar a VNL após os Jogos Olímpicos, uma vez que seu formato de sete semanas (cinco na fase classificatória, uma de intervalo e então as finais) interferiria na temporada de clubes”, observou. Mesma linha de raciocínio do canadense Glenn Hoag: “Estaremos em cima da temporada de clubes. Além disso, há o problema da motivação após as Olimpíadas.”

Igor Kolakovic dá de ombros mais uma vez para a competição. “Acho que não faria sentido disputar a VNL após Tóquio. Se o torneio precisa ser jogado apenas para preencher o calendário, então não há objetivo, significado ou interesse. Acho que a Liga perderia o sentido dessa maneira porque não é o período em que deveria ser realizada. Muitos jogadores estarão esgotados emocionalmente após a Olimpíada, precisam se recuperar e se juntar a seus clubes. A FIVB deveria cancelar a edição deste ano da VNL.”

 

Marcos Kwiek e Stefano Lavarini não veem problema em disputar a VNL após Tóquio-2020

 

 

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