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Morre Man Bok Park, o maestro que levou o Peru ao pódio olímpico

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Man Bok Park não resistiu a um AVC sofrido há três semanas (Foto: Divulgação/FPV)

 

Por Sidrônio Henrique
27 de setembro de 2019

 

Quando desembarcou no Peru, em 1974, o sul-coreano Man Bok Park provavelmente não imaginava que faria do país andino sua segunda pátria. Farmacêutico de formação, Park ia completar 38 anos quando chegou a Lima, tendo uma carreira de apenas nove anos no esporte, mas com o expressivo bronze na Copa do Mundo 1973, comandando a seleção feminina da Coreia do Sul. Seu primeiro posto foi o de assistente técnico do japonês Akira Kato, o homem que em 1965 faria mudanças drásticas nos métodos de treinamento e na mentalidade das jogadoras peruanas, levando-as ao quarto lugar na Olimpíada da Cidade do México, em 1968, e ao domínio da modalidade na América do Sul. Mambo ou Mister Park, como ficaria conhecido entre atletas, imprensa e fãs, aproveitou o legado para ir mais longe do que seu antecessor.

 

 

Na manhã dessa quinta-feira (26), em Lima, Mambo faleceu aos 83 anos, após três semanas internado, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC). A notícia deixou de luto os peruanos. Ele havia dirigido a seleção de vôlei feminino do país em duas oportunidades: de 1974 a 1993 e de 1999 a 2003. Em uma nação com apenas quatro medalhas em Olimpíadas, sendo somente uma de ouro (tiro esportivo, em Londres-1948), a prata alcançada em Seul-1988 pelo vôlei feminino, único esporte coletivo a levar o Peru ao pódio olímpico, é lembrada constantemente. Conseguiu ainda duas medalhas em Campeonatos Mundiais: prata em 1982 e bronze em 1986. Na Olimpíada de Los Angeles-1984 terminou em um honroso quarto lugar.

Sua referência, obviamente, era o voleibol asiático, com ênfase na defesa. Tendo à disposição poucas atletas altas, Park fez da equipe do Peru sinônimo de técnica e disciplina tática.

 

Após levar a seleção do Peru à conquista de medalhas em grandes torneios, o sul-coreano virou ídolo no país andino (Foto: El Comercio)

 

DA AMÉRICA DO SUL PARA O MUNDO
Semanas depois de chegar a Lima, em 1974, Man Bok Park teve que assumir o cargo de treinador da seleção, pois Akira Kato tinha problemas de saúde e não poderia prosseguir. Era a época de Lucha Fuentes, maior jogadora peruana dos anos 1960 e 1970. Park manteve o domínio na América do Sul, mas faria o time despontar para o mundo somente na década seguinte. Tinha em mãos uma nova geração, da qual a maior expoente era a canhota Cecilia Tait, além de figuras expressivas como Gina Torrealva e Rosa Garcia, entre outras, que foram vice-campeãs mundiais juvenis em 1981, também tendo ele como técnico. Em 1984, levaria às Olimpíadas de Los Angeles, com apenas 16 anos, uma de suas principais pupilas, a central Gabriela Perez, 1,94m, que viraria titular no ano seguinte e seria figura-chave, ao lado de Tait, no Mundial 1986 e nos Jogos Olímpicos de 1988.

No Campeonato Sul-Americano, na sua primeira fase com a seleção peruana, perdeu o título apenas duas vezes para o Brasil. A segunda era, até certo ponto, esperada. Foi em quatro sets em 1991, na cidade de São Paulo, diante da equipe de Ana Moser, Fernanda Venturini e Ida. A primeira, talvez mais dolorosa, foi em 1981, em Santo André (SP), numa partida marcada pelo mau comportamento da torcida brasileira, que atirava objetos na quadra e gritava ofensas racistas para as peruanas. O jogo terminou 3 a 2. Procurado pela imprensa brasileira para dar entrevista, Mambo disse que só falaria se o pagassem e em dólares, pois, segundo ele, o cruzeiro (moeda do Brasil na época) nada valia. O treinador foi às raias do descontrole emocional quando repórteres brasileiros jogaram moedas de centavos aos seus pés.

Antes dessa decisão de 1981, o último Sul-Americano conquistado pelo Brasil havia sido o de 1969 e a vitória mais recente havia ocorrido no Mundial 1970. Seriam necessários mais nove anos para que, na decisão da medalha de bronze dos Goodwill Games, em 1990, num disputado 3 a 2, salvando três match points, as brasileiras voltassem a superar o Peru.

 

O treinador liderou a maior geração do voleibol peruano (Foto: Agência Andina)

 

HIATO
Man Bok Park deixaria a já decadente seleção peruana em 1993 com o título sul-americano daquele ano. Jogando em casa, na altitude de Cuzco, as anfitriãs venceram as brasileiras, que estavam às turras com o então técnico Wadson Lima e não contavam com três titulares, entre elas Ana Moser.

O sul-coreano voltaria a dirigir o Peru em 1999. Seria o responsável por levá-lo pela última vez aos Jogos Olímpicos. Com a presença de veteranas como Rosa Garcia e Natalia Málaga, as peruanas superaram a Argentina de Carolina Costagrande no Pré-Olímpico e foram a Sydney 2000. Perderam todas as partidas e o melhor momento foi arrancar um set de Cuba, que se sagraria tricampeã olímpica.

Em várias oportunidades foi perguntado qual a melhor atleta que treinou. A resposta era sempre a mesma: “As melhores em ataque foram Cecilia Tait e Gabriela Perez. A mais completa, Gina Torrealva.”

 

O treinador voltou a dirigir o Peru em 1999, mas, com uma seleção inferior, não obteve o mesmo sucesso (Foto: El Comercio)

 

CHORO E POPULARIDADE
Dizia que jamais choraria diante de suas jogadoras, mas não resistiu no dia 29 de setembro de 1988. O Peru vencia a então União Soviética por 2 a 0 na final de Seul-1988 e tinha vantagem de 12 a 6 no terceiro set, quando as parciais eram decididas até 15, com a diferença mínima de dois pontos. “Eu perdi. Ganhávamos por 2 a 0 e perdemos o terceiro set, perdemos os demais. Sim, me dói muito e ainda hoje eu penso nisso, não posso esquecer”, afirmou, quando tinha 80 anos.

Em 2016, entrou para o Hall da Fama do Vôlei pelo trabalho no Peru. Mambo nunca se naturalizou, mas contava que tinha coração peruano. Nas últimas semanas, fãs, atletas, dirigentes e suas ex-jogadoras pediam orações por sua saúde.

Graças aos times comandados por Mister Park, o vôlei é o segundo esporte no Peru, status que conserva até hoje, apesar de sua seleção adulta ser quase invisível no cenário internacional, tendo perdido espaço mesmo regionalmente para equipes como Argentina e Colômbia, sem oferecer qualquer risco ao Brasil.

No auge do voleibol peruano, a modalidade era especialmente popular nos bairros mais pobres de Lima e o país parava na hora das partidas. Era um fenômeno ver uma nação predominantemente machista rendendo-se a um grupo de mulheres. Era o time de Man Bok Park, equipe que superou inúmeras barreiras e encheu os peruanos de orgulho.

 

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