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Thaisa dá a volta por cima

“Tive medo de não conseguir voltar”, disse a bicampeã olímpica (foto: Orlando Bento/MTC)

 

Por Sidrônio Henrique
27 de março de 2020

 

A vida de Thaisa Daher de Menezes nas quadras foi cheia de percalços nos últimos anos. Em 2017, após romper parcialmente um ligamento lateral do joelho esquerdo, a central de 1,96m teve que se submeter a uma cirurgia e ficou sem jogar por dez meses. Com dores no local antes da operação, optou pelo procedimento após sofrer uma luxação no tornozelo direito, quando atuava pelo Eczacibasi-TUR naquele ano – uma imagem que rodou o mundo e que inicialmente fazia todos suspeitarem de fratura. “Tive medo de não conseguir voltar, mas sempre buscava pensar que conseguiria e treinei muito para isso”, afirma a bicampeã olímpica ao Saque Viagem.

Na Superliga 2019/20, Thaisa deu a volta por cima. E que retorno. A meio de rede, que na temporada anterior dizia ter dificuldade para chegar inteira no bloqueio e vivia uma recuperação que exigia horas diárias de empenho e sacrifício, dominou a cena. “Eu me vejo melhor do que no meu auge antes da cirurgia. Mesmo com algumas limitações por conta do joelho, me sinto melhor, mais forte, mais confiante, mais experiente.” Ela não se dá por satisfeita. “Sempre podemos melhorar, tem o que ser treinado e aperfeiçoado, nunca vou achar que está bom. Isso faz a diferença”, completa.

 

A meio de rede foi um dos grandes nomes da Superliga 2019/20 (Foto: Orlando Bento/MTC)

 

 

 

TRANSPARENTE
Fora de quadra também chama atenção. Thaisa, 32 anos, não é do tipo que faz cerimônia para falar algo, seja na TV ou nas redes sociais. “Muitos não gostam de ouvir verdades, preferem pessoas políticas e que floreiam as palavras e situações para sair bonito. Prefiro ser verdadeira e transparente.” Recentemente, pouco antes do cancelamento da Superliga feminina em razão da pandemia do coronavírus, a atacante expôs sua indignação com a manutenção do ranking, depois revertida, e o aumento de duas para três estrangeiras por time.

“Obviamente muitas pessoas não gostam de mim por isso, mas prefiro que não gostem porque sou verdadeira e falo na cara, sem falsidade. O que mais tem é gente que na frente fala o que todos gostariam  de ouvir, mas por trás… vixe, metem o pau geral. Eu não gosto, não compactuo com isso, não sei ser assim”, responde, de bate-pronto, ao ser perguntada sobre o seu jeito de lidar com as situações.

 

Thaisa consola a ponteira Gabi, após a eliminação do Brasil no Mundial 2018 (Foto: Divulgação/FIVB)

 

 

SORORIDADE
A polêmica em torno do ranking e da ampliação do número de jogadoras estrangeiras a deixa aborrecida com a categoria. Quando indagada se as atletas poderiam cobrar mais dos clubes e da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), ela dispara: “Sim, pena que são poucas as que dão a cara a tapa e lutam realmente. Falta sororidade no vôlei, essa é a grande verdade. Sororidade e culhão. Desculpe a palavra, mas é a verdade.”

Com três Olimpíadas no currículo – duas medalhas de ouro e uma eliminação nas quartas de final –, Thaisa diz que guarda os ensinamentos da derrota para a China no mata-mata da Rio-2016. “Foram muitas lições e as levo comigo”, comenta, sem se alongar. Em três Mundiais, acumula uma prata (2010) e um bronze (2014). Na edição mais recente, em 2018, ainda se recuperava da cirurgia no joelho e pouco pôde contribuir – a equipe terminou na sétima colocação.

Quando o papo recai sobre seleção e Jogos Olímpicos de Tóquio (a entrevista foi feita antes do adiamento do evento de 2020 para 2021), ela não se empolga. “Para ser sincera, não me via pensando em seleção ou em Olimpíada. Com essa situação no Brasil e no mundo, difícil pensar em algo que não seja a recuperação diante desse vírus”, pondera, dizendo ainda que sequer tem conversado sobre seleção com José Roberto Guimarães, técnico do time feminino.

 

A central em ação pelo Itambé/Minas: líder em aproveitamento no ataque (Foto: Orlando Bento/MTC)

 

 

NÚMEROS
Seu foco estava no Itambé/Minas, onde vinha fazendo uma temporada de gala, após dois anos recuperando-se com a ajuda da comissão técnica do Barueri, Zé Roberto à frente. Os números de Thaisa no Minas foram incontestáveis: melhor bloqueadora em números absolutos (94), segunda melhor em bloqueios por set (1,16), quarta maior pontuadora (332), quarta melhor sacadora (0,44 ace por set, somando 36). Foi a atacante mais eficiente, com 57% de aproveitamento – embora as centrais levem vantagem sobre pontas e opostas por atuarem em velocidade, diante quase sempre de bloqueios simples ou quebrados. O tradicional clube mineiro tem Thaisa entre as suas prioridades para a temporada 2020/2021 e já encaminhou a renovação do contrato.

“O cancelamento da Superliga foi necessário. Algo triste, pois eu queria muito jogar e estava pronta para o que viesse, mas foi a decisão mais sensata nesse momento”, diz. Ela é pentacampeã do torneio. Foram três títulos com a Unilever (atual Sesc-RJ) e dois com o Sollys Nestlé (hoje Osasco-Audax).

Caso tivesse que sair novamente do país, Thaisa, que ficou uma temporada fora, não teria problema, mas não tem isso em mente. “Eu nunca quis sair do Brasil, fui obrigada na época. Jogaria fora (novamente), sim. Porém, não é minha prioridade, nunca foi.”

 

Celebrando o primeiro dos dois ouros olímpicos com a líbero Fabi, em Pequim-2008 (Foto: Divulgação/FIVB)

 

SAFRA
A veterana está satisfeita com a atual safra de meios de rede no Brasil. “Temos ótimas centrais. É difícil se destacar nessa posição, ainda mais jogando com tantas centrais muito fortes lá fora. Acredito que temos força no nosso meio de rede. Mas espero que apareçam cada vez mais novos talentos. O vôlei precisa. E não só centrais, mas opostas, ponteiras, levantadoras”, analisa, sem citar nomes.

Já o trabalho de renovação, na opinião de Thaisa, necessita de ajustes. “É preciso mais foco nas categorias de base, fazer essas meninas jogarem mais, treinarem mais. Investir realmente em novos talentos. Mas também precisamos de comprometimento real dessas jogadoras porque resultado não vem da noite pro dia.”

 

 

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