Capitão da seleção portuguesa diz que é “um orgulho” enfrentar o Brasil
Alex Ferreira é considerado o melhor jogador português da atualidade (Fotos: Divulgação/FIVB)
Por Sidrônio Henrique
14 de junho de 2019
O ano tem sido bom para o voleibol masculino de Portugal. A seleção estreou na Liga das Nações e, depois de oito anos, estará de volta ao Campeonato Europeu, que será disputado em setembro*. Melhor jogador português da atualidade, o ponta e capitão Alexandre Ferreira, 27 anos, 1,99m (“nos registos põem sempre 2,02m, mas não é verdade”), é um dos principais responsáveis pela evolução, ainda que moderada, da equipe.
Depois de passagens pelas ligas da Itália, da Turquia e da Coreia do Sul, alternando períodos bons e razoáveis, jogou na temporada passada pelo clube polonês Warta Zawiercie, onde foi destaque. Ajudou uma equipe que vinha de um modesto nono lugar no ano anterior a chegar às semifinais da liga polonesa, ficando a um set da final. No caminho, o Warta bateu times com orçamentos bastante superiores. Alex, como é chamado, ganhou o reconhecimento dos treinadores e da imprensa local, renovou contrato e agora se dedica à seleção.
Ao lado do irmão Marco, oposto, quatro anos mais velho, que o incentivou a começar na modalidade, ele desponta como o principal atacante de Portugal na Liga das Nações. Depois de duas semanas de disputa, com seis jogos, Marco acumula 66 pontos. Alex, 64.
Alexandre (6) e o irmão Marco (7) já marcaram juntos 130 pontos na Liga das Nações
O principal objetivo dos portugueses é permanecer na Liga das Nações. A tarefa não é das mais fáceis. Dos 16 participantes, 12 são fixos. Os desafiantes são, além de Portugal, as seleções do Canadá, da Austrália e da Bulgária. O último entre esses quatro ficará fora da Liga. Os portugueses até conseguiram uma vitória inédita sobre a Bulgária (3-1), na primeira semana, mas estão em último na tabela, com apenas esse triunfo. Neste fim de semana, enfrentam, de sexta-feira a domingo, respectivamente, China, Sérvia e Brasil – a partida diante dos brasileiros será às 14h (de Brasília), com transmissão do SporTV 2.
Para Alex Ferreira, servindo à seleção portuguesa desde 2010, “é um orgulho poder defrontar” o Brasil. A demonstração de desânimo vem quando o assunto é o cenário atual no voleibol de seu país. “Ninguém quer jogar vôlei em Portugal porque não tem futuro”, afirma.
O ponteiro bateu um papo com o Saque Viagem que você confere aqui:
Saque Viagem – Qual é a expectativa da seleção portuguesa na disputa da Liga das Nações 2019?
Alex Ferreira – Nosso grande objetivo é tentar ficar na Liga das Nações. Será difícil, nós temos essa noção, mas acreditamos que podemos ter sucesso.
Saque Viagem – O que há de melhor e quais as maiores deficiências da seleção portuguesa?
Alex Ferreira – Somos uma seleção com muitos jogadores novos, que têm a grande ambição de tornarem-se profissionais no voleibol. Acho que isso é algo muito bom para nós. Ao mesmo tempo, acaba por ser negativo, pela falta de experiência e maturidade neste nível, que é muito importante.
Saque Viagem – O que espera do confronto com a seleção brasileira? O que sabe sobre o time?
Alex Ferreira – São os campeões olímpicos, isso diz tudo. Para nós, é um orgulho poder defrontar e estar na mesma quadra. O Brasil tem um jogo rápido, os jogadores são muito fortes no bloqueio e na defesa, o saque é muito bom. Tem um dos melhores levantadores da história, o Bruno, o que torna difícil fazer um estudo exato do sistema de jogo brasileiro.
Portugal está na última posição na edição 2019 da Liga das Nações
Saque Viagem – O que falta para o voleibol deslanchar em Portugal? O país ainda é muito focado no futebol?
Alex Ferreira – Infelizmente em Portugal as pessoas e o governo só olham para o futebol. Então, os apoios monetários e sociais acabam por ser muito poucos (às demais modalidades). Eu acho que as pessoas em Portugal não estão por dentro da realidade do voleibol mundial.
Saque Viagem – Na década passada, vocês tiveram uma seleção bastante competitiva, 8ª colocada no Mundial 2002 e 5º lugar na Liga Mundial 2005. O que mudou no vôlei português desde então?
Alex Ferreira – A diferença hoje é que não tem aposta na formação, ninguém quer jogar vôlei em Portugal porque não tem futuro, o campeonato é fraco e amador.
Saque Viagem – Como é jogar ao lado do irmão na seleção? Ele te influenciou a procurar esse esporte?
Alex Ferreira – Eu comecei a jogar vôlei por causa do meu irmão. Quando ele tinha 16 anos foi chamado para a seleção de cadetes (infantojuvenil) e foi quando eu comecei a seguir vôlei, comecei a seguir os passos dele. É muito bom ter ele aqui comigo, apoiamos um ao outro nos momentos mais difíceis. Família é sempre família, transmite muita confiança dentro e fora da quadra.
“Ninguém quer jogar vôlei em Portugal”, lamenta Alex Ferreira
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*A edição de 2019 do Campeonato Europeu de Voleibol Masculino, torneio bienal, será disputada em quatro países: Bélgica, França, Holanda e Eslovênia, de 13 a 29 de setembro. É a primeira vez que a sede é dividida entre quatro países. As finais serão realizadas em Paris, França. Outra novidade é o aumento do número de participantes da competição, que passou de 16 para 24 seleções.