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Fofão: 50 anos de um ícone do esporte brasileiro

Fofão é festejada pelas jogadoras da seleção campeã olímpica em 2008 (Foto: Divulgação/FIVB)

 

Por Sidrônio Henrique
10 de março de 2020

 

Um ouro e dois bronzes olímpicos, duas pratas em Campeonatos Mundiais, mais de cinco dezenas de prêmios individuais nos clubes e na seleção, incluindo o de melhor levantadora de Sydney-2000 e de Pequim-2008. Como se não bastasse, logo que se aposentou, aos 45 anos, Fofão entrou para o Hall da Fama do Vôlei, coroando uma história que havia começado 32 anos antes, nas ruas do bairro Lauzane Paulista, na zona norte de São Paulo, cidade onde nasceu.

Há 50 anos, no dia 10 de março de 1970, nascia Hélia Rogério de Souza Pinto. A quinta dos sete filhos do ‘Seu’ Sebastião e da ‘Dona’ Eurides via a modalidade como recreação e no começo era ponteira. Selecionada para treinar no Centro Olímpico da Prefeitura, depois de passar por uma peneira, logo foi adotada por uma empresa e, a partir daquela ajuda de custo, acreditou que poderia viver de vôlei.

O apelido Fofão, pela semelhança das suas bochechas com a de um personagem de um programa infantil da TV, surgiu na adolescência. Pegou de tal forma que hoje apenas seus familiares e amigos mais próximos a chamam de Helinha. “O técnico João Crisóstomo cismava com as minhas bochechas e ficava apertando, me chamava de Fofão. Eu odiava”, relembra a ex-jogadora.

Foi outro treinador, o então iniciante José Roberto Guimarães, que a convenceu a se tornar levantadora, quando ambos eram da equipe do Pão de Açúcar, no final dos anos 1980. A habilidade, visão de jogo e a minguada estatura (1,73m) para ser atacante foram determinantes para a mudança. “Eu nem gostava de levantar, queria era atacar, fazer ponto.”

 

Pelo turco Fenerbahçe, Fofão foi campeã mundial de clubes (Foto: Divulgação/FIVB)

 

Chegou à seleção adulta sem ter passado pelas categorias de base. Aos poucos, conquistou seu espaço, primeiro como reserva de Fernanda Venturini, depois como titular, tornando-se a líder da equipe no bronze de Sydney-2000 e no ouro de Pequim-2008 – esta última uma conquista que livrou a seleção feminina da pecha de amarelona.

Fofão não fala de política, não adianta insistir. “Eu penso no bem do Brasil, mas não vou discutir esse tema”, diz, mantendo a gentileza.

Quer se tornar técnica, mas da base. Tem uma visão crítica sobre o processo de renovação na seleção e gostaria de ver maior variação de jogadas no voleibol feminino. “Está mais mecanizado.”

A ex-levantadora conversou com o Saque Viagem e relembrou suas cinco participações olímpicas, sua entrada no Hall da Fama, o trabalho com Bernardinho e Zé Roberto, comparou as seleções de 1996 e de 2008, apontou suas atacantes favoritas entre as que dividiram a quadra com ela e as que mais lhe impressionaram entre as adversárias. Fofão ainda enfatizou sua admiração pela colega de posição Macris Carneiro, avaliou o ciclo da seleção feminina e as chances da equipe em Tóquio-2020. A campeã olímpica se assusta com as consequências de mais uma crise que assola a economia e afeta o voleibol e diz que a modalidade deveria ter mais retorno comercial diante de tudo o que conquistou.

 

Confira os principais trechos da entrevista concedida por Fofão:

 

Foi no Rexona, do Rio de Janeiro, que Fofão encerrou sua vitoriosa carreira (Foto: Divulgação/FIVB)

 

Saque Viagem – Você se graduou como técnica nível II* em 2017. Planeja seguir carreira como treinadora?

Fofão – Em algum momento eu vou buscar o nível III, mas não penso em ser técnica agora, talvez no futuro. Quero trabalhar com a formação de atletas, ajudar na base.

 

Saque Viagem – Como vê mais uma crise afetando várias equipes da Superliga, resultando em não pagamento de salários, rescisão de contratos e até o fim de uma equipe?

Fofão – Isso é assustador, já passei por um período assim e, quando contornamos isso lá atrás, nos anos 1990, a gente achava que nunca mais iria acontecer, mas volta e meia ocorre de novo. O Brasil tem tantos títulos no vôlei, é uma potência na modalidade, esperava mais estabilidade para os profissionais daqui.

 

Saque Viagem – Você diria que o voleibol, enquanto produto, não é suficientemente bem apresentado, bem vendido pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV)?

Fofão – Poderia ser mais, sabe, por tudo o que conquistou, pela história. Merecia mais retorno, sem dúvida.

 

Saque Viagem – Você chegou à seleção adulta em 1991, no ano seguinte foi aos Jogos Olímpicos de Barcelona e, quando voltou ao Brasil, tanto no meio profissional como entre os torcedores, a percepção sobre você havia mudado, especialmente após a partida das quartas de final, contra o Japão**. Isso te surpreendeu?

Fofão – Embora eu fosse reserva, ali nas quartas de final, contra o Japão, entrei para uma inversão num momento delicado e fui super bem. Depois da partida, eu que nunca era procurada pela imprensa, dei entrevista. Foi estranho. Quando cheguei de volta ao Brasil, percebi que me olhavam com mais respeito.

 

Ao lado do técnico Bernardinho, no Mundial de Clubes 2013 (Foto: Divulgação/FIVB)

 

Saque Viagem – Como foi a sua primeira experiência com o Bernardinho, quando ele assumiu a seleção feminina no final de 1993?

Fofão – Ele me encorajou muito, me ensinou a ser mais confiante, não apenas naquele momento, mas ao longo da nossa convivência. Se o Zé Roberto foi o meu mentor, me transformou numa levantadora, o Bernardo também teve um papel muito marcante na minha carreira, tanto na seleção quanto no clube. Eu não conseguiria escolher entre um e outro se tivesse que fazer isso.

 

Saque Viagem – Em Atlanta-1996 você entrava mais para sacar, fazer fundo de quadra do que propriamente nas inversões. Como foi ver de fora a derrota por 3 a 2 para Cuba na semifinal?

Fofão – A gente cruzou com as cubanas antes do previsto. Tínhamos certeza de que a final da Olimpíada seria entre Brasil e Cuba, mas não contávamos que elas perdessem para a Rússia na fase de grupos, o que fez com que enfrentassem a gente na semifinal. Aquele jogo foi decidido nos detalhes. Não era a hora de enfrentar Cuba, deveríamos ter encarado elas de novo, depois de ganhar por 3 a 0 na primeira fase, somente na final. Foi uma pena. Mas a vitória sobre a Rússia e a medalha de bronze tiveram um sabor especial.

 

Saque Viagem – E daquela confusão com as cubanas depois da semifinal, do que você se lembra?

Fofão – Nossa, deu tudo errado, não separaram as equipes. Mas já estávamos no vestiário quando elas vieram e começaram a dar socos e chutes na porta, nos xingavam aos gritos. Foi um horror. Algumas das nossas foram tomar satisfação e foi uma pancadaria horrível, com gente dos dois times apanhando e batendo. Eu, baixinha e quietinha, fiquei no meu canto, lá no fundo, nem me mexia (risos). As cubanas provocavam demais… o jogo havia acabado, elas ganharam, pra que aquilo?

 

Saque Viagem – Quatro anos depois, em Sydney-2000, você era titular, a seleção havia passado por uma renovação forçada, com a saída de várias titulares por diversos motivos ao longo do ciclo. Como você definiria aquela equipe?

Fofão – A equipe de 2000 era uma seleção operária. Várias reservas de 1996, como a Leila, a Virna e eu, haviam virado titulares. Não era um time tão habilidoso quanto o de quatro anos antes, mas a força do grupo, o conjunto era muito bom. Havíamos aprendido a enfrentar melhor as cubanas, que também tinham tido algumas mudanças. Chegamos muito perto de vencê-las, mas novamente não deu.

 

Durante treino da seleção (Foto: Alexandre Arruda/CBV)

 

Saque Viagem – O Brasil vencia a semifinal de Sydney contra Cuba por 1 a 0 e tinha 16 a 9 no segundo set, mas perdeu. Depois ganhava por 2 a 1 e liderava a quarta parcial por 16 a 12, que perdeu também, então foi finalmente derrotado no tie break. Nas duas viradas, no segundo e no quarto set, a mesma rede empacou, com a oposta Leila na entrada, a ponteira Virna na saída e Janina no meio. O que houve? Afinal, na maioria das vezes o passe chegou às suas mãos.

Fofão – Eu realmente não sei explicar, foi desesperador. A melhor opção era a Virna na saída, pois a bola da Leila na entrada não era tão boa, mas nada estava dando certo. Tentamos de tudo, mas não colocávamos a bola no chão.

 

Saque Viagem – A tragédia de Atenas-2004, com sete match points desperdiçados. Como você analisou aquilo vendo desde o banco? Afinal o técnico Zé Roberto ainda tentou te colocar em quadra naquele momento crucial da semifinal entre Brasil e Rússia, mas o árbitro não autorizou.

Fofão – Aquilo foi uma afobação imensa, o time perdeu o foco quanto faltava apenas um ponto e não conseguiu mais voltar para o jogo. Ali o fator emocional pesou completamente. As russas aproveitaram.

 

Saque Viagem – Na sua quinta Olimpíada, o tão sonhado ouro. O time sobrou técnica e fisicamente em Pequim-2008, com oito vitórias e apenas um set perdido. Quando vocês chegaram à China, já era nítida essa superioridade? Ou ainda sentiam o peso de Atenas-2004, da virada sofrida também contra as russas na final do Mundial 2006 e de ter perdido o ouro no Pan 2007, em casa, para as cubanas?

Fofão – Olha, não dava para achar nada, por causa do nosso histórico. Fomos incríveis nas finais do Grand Prix, que ganhamos também, mas aí diziam, “na Olimpíada o nível de vocês vai cair”. Tinha toda aquela história, “são amarelonas”. Agora, para espantar essa sina a postura das meninas foi sensacional, o grupo passava uma sensação diferente, mais coeso, todo mundo concentrado. Encarávamos uma partida de cada vez, então evitávamos qualquer sinal de “está no papo” ou “somos favoritas”. Aquele time foi formidável.

 

No pódio, em Pequim-2008, com a central Walewska e abraçando a líbero Fabi (Foto: Divulgação/FIVB)

 

Saque Viagem – Você lembra o que passou pela sua cabeça quando a americana Logan Tom atacou aquela bola para fora e o Brasil fechou a decisão do ouro?

Fofão – Entrei em transe, foi como se por um momento eu não estivesse ali. Quando voltei a mim, a Fabizinha estava me abraçando, mas eu ainda estava tentando processar tudo. Que momento maravilhoso aquele. Acho que só recuperei realmente os sentidos no pódio, recebendo a medalha.

 

Saque Viagem – Você afirmou que naquela competição, aos 38 anos, atingiu o seu ápice. O que caracterizava isso?

Fofão – Eu não tinha medo de errar, de arriscar nada. Estava muito tranquila, com bastante autoconfiança. Tinha muita experiência, bagagem, ali eu cheguei mesmo ao meu nível mais alto.

 

Saque Viagem – Você fez parte das duas seleções femininas de vôlei mais aclamadas do Brasil: a de 1996 e a de 2008. Qual foi a melhor?

Fofão – A de 1996. Eu treinei e joguei nas duas e digo que a de 1996 era melhor pela habilidade e versatilidade daquele grupo de jogadoras. Todo mundo fazia de tudo ali. A Márcia Fu, por exemplo, jogava em velocidade, mas virava bola alta pelas extremas também. Não tinha bola ruim para a Ana Moser. Em 2008 prevalecia a força do grupo, o conjunto era muito forte.

 

Saque Viagem – Naquele intervalo de 12 anos, de 1996 a 2008, o voleibol mudou muito, as equipes ficaram mais altas, mais fortes fisicamente, foi introduzido o líbero. Consegue imaginar um confronto entre essas duas equipes?

Fofão – Sim, o vôlei mudou demais, não consigo dizer quem venceria um jogo entre o Brasil de 1996 e o de 2008, mas te garanto que ia ser lindo. Foram dois times maravilhosos.

 

Fofão observada pelo técnico Zé Roberto durante um rali (Foto: Divulgação/FIVB)

 

Saque Viagem – Você teve oportunidade de jogar com inúmeras atacantes na seleção e nos clubes. Quem te impressionou mais?

Fofão – Não tinha tempo ruim com a Ana Moser, nunca reclamava de nenhum levantamento, atacava qualquer tipo de bola, era uma atacante de força fenomenal, uma ponteira clássica. A Sheilla foi outra atacante que me impressionou muito, apesar de ser um estilo bem diferente, que pedia um levantamento mais preciso, mas virava muito. E teve a (Lioubov) Sokolova. Eu a enfrentava pela seleção, contra a Rússia, e ficava imaginando como seria jogar com ela, até que tive essa chance quando fui para o Fenerbahçe, na Turquia. Sabe uma falsa russa? (risos) Ela tinha uma técnica apuradíssima, todos os golpes, jogava fácil, fazia tudo, além de ter um coração enorme.

 

Saque Viagem – E entre aquelas que você apenas enfrentou, quem te marcou mais?

Fofão – Não joguei tanto contra a (cubana) Mireya, eu era reserva quando ela era titular, mas no auge a mulher era uma coisa fora de série. Lembro dela cravando na zona de ataque, com bloqueio, e eu pensando, “ninguém faz isso”. Teve também a (russa) Gamova, que sabia utilizar sua altura e tinha recurso. Era muito difícil marcar ou defender os ataques da Gamova. Ela dava over na Fabiana. O que era aquilo? Ah, ela é muito alta… OK, mas eu vi outras jogadoras também altas que não tinham a mesma desenvoltura nem eram eficientes como a Gamova, que jogava sempre muito marcada.

 

Saque Viagem – Você jogou cinco temporadas no exterior***, quatro delas antes de Pequim-2008. O que isso representou como parte do seu amadurecimento?

Fofão – Só tive boas experiências lá fora. Ir para a Itália, jogar no Perugia, depois da tristeza de Atenas-2004, me fez um bem enorme. Fui muito respeitada tanto na Itália, quanto na Espanha e na Turquia. Recebi a admiração das comissões técnicas, das colegas, da torcida e da imprensa, além de tudo o que acumulei como pessoa e como atleta. Sem dúvida ter jogado no exterior acrescentou muito em minha carreira.

 

Saque Viagem – Após um ano parada, você jogou suas últimas temporadas no Rio. Já não estava tão bem fisicamente, por causa da idade, mas foi fundamental como liderança do time, ganhando a Superliga três vezes com a equipe, se aposentando aos 45 anos. O que te motivava naquele momento, depois de tantas conquistas em uma carreira tão longa?

Fofão – Eu ainda queria jogar, me via contribuindo. Só a partir do segundo para o terceiro ano é que me senti cansada, aí vi que era hora de parar. E foi fantástico porque me despedi com um título, com um grupo super bacana, treinando com o Bernardinho, que foi uma das figuras fundamentais na minha história. Parei na hora certa.

 

Ao entrar para o Hall da Fama, em 2015, ao lado dos brasileiros Renan Dal Zotto e Bebeto de Freitas, além do ex-levantador americano Lloy Ball (Foto: Divulgação/Volleyball Hall of Fame)

 

Saque Viagem – Como se sentiu ao receber a notícia que entraria para o Hall da Fama em 2015?

Fofão – Foi uma surpresa muito grande. Eu não esperava porque eu havia acabado de me aposentar, nem passava pela minha cabeça essa possibilidade. Ter minha história eternizada ali, o que fiz pelo voleibol, é maravilhoso. É uma honra muito grande estar ali, a festa foi muito linda. Depois do ouro olímpico, foi um dos momentos mais felizes da minha vida, ser reconhecida pelo meu trabalho, minhas conquistas.

 

Saque Viagem – Quando se fala da sua carreira, quase sempre se referem também à Fernanda Venturini. Duas grandes levantadoras, nascidas no mesmo ano, contemporâneas na seleção. Quem foi melhor, você ou ela?

Fofão – Ah, sabe… Olha, eu acho que cada uma teve o seu momento. Quando ela era titular da seleção, sem dúvida era melhor. Quando eu fui titular, fui a melhor naquele momento.

 

Saque Viagem – O que uma fazia melhor do que a outra?

Fofão – Sem dúvida o bloqueio dela era melhor, ela é sete centímetros mais alta do que eu, isso faz diferença, é muito importante. Eu defendia melhor, com certeza.

 

Saque Viagem – Estamos a pouco mais de quatro meses da Olimpíada de Tóquio, como avalia este ciclo da seleção feminina?

Fofão – Foi muito conturbado, complicado até na definição das jogadoras, muitas mudanças, muitas ausências por causa de lesões. Tem sido bastante difícil até aqui. A renovação foi lenta também, as mais novas precisavam jogar para ganhar rodagem.

 

Seleção brasileira durante a Copa do Mundo 2019 (Foto: Divulgação/FIVB)

 

Saque Viagem – Quais as chances da seleção feminina em Tóquio-2020?

Fofão – Não dá para falar que é ouro, mas é pódio. Eu espero ser surpreendida. Quem sabe não pinta mais uma medalha de ouro olímpica… Com o time completo, as chances brasileiras sobem muito.

 

Saque Viagem – Se fosse convocar a seleção, quem seriam as duas levantadoras que levaria para Tóquio?

Fofão – No momento, a Macris está bem acima das demais. Eu vejo várias outras jogando muito parecido, mas não vou citar um nome. A escolha da segunda vai ser definida nos detalhes, algo a mais que uma ou outra apresente.

 

Saque Viagem – Entre os principais adversários em Tóquio-2020, quais são as levantadoras que chamam a sua atenção?

Fofão – Ninguém.

 

Fofão elogia Macris: “Ela é ousada, está jogando muito bem” (Foto: Divulgação/FIVB)

 

Saque Viagem – Nem a sérvia Maja Ognjenovic?

Fofão – Quem me chama a atenção mesmo é a Macris. Ela é ousada, está jogando muito bem. A Macris precisa de liberdade para criar e o (técnico italiano Stefano) Lavarini proporcionou isso a ela na passagem dele pelo Minas. Veja como ela cresceu, como foi bem também na seleção no ano passado.

 

Saque Viagem – A modalidade é muito dinâmica, a evolução tática é constante. Como você vê o vôlei feminino atualmente?

Fofão – Está mais mecanizado, há menos risco, joga-se demais com a bola de segurança. Veja o caso da Itália, que depende enormemente da (Paola) Egonu, uma oposta que recebe um número absurdo de bolas por jogo. Outras seleções e também vários clubes seguem esse padrão. Eu acho que o vôlei feminino precisa de mais criatividade, variação, sinto falta disso.

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* Há quatro níveis na formação do técnico de voleibol, em cursos ministrados pelas federações estaduais, com a chancela da CBV. Nível I, iniciação ao voleibol (escolinhas); Nível II, até a categoria infantojuvenil; Nível III e IV, atuação em todas as categorias da modalidade.

** O Brasil derrotou o Japão nas quartas de final de Barcelona-1992 por 3 a 1, avançando pela primeira vez na história, no naipe feminino, a uma semifinal olímpica. O time terminaria a competição em quarto lugar.

*** Fofão jogou três temporadas na Itália, pelo Perugia, de 2004 a 2007. No período 2007-2008, foi atleta do Murcia, na Espanha. Sua quinta e última temporada no exterior foi em 2010-2011, pelo clube turco Fenerbahçe.

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Veja o que os dois técnicos mais importantes da carreira de Fofão e três colegas da campanha do ouro em Pequim-2008 dizem sobre ela:
(Fotos: Divulgação/FIVB)

 

José Roberto Guimarães

“Hélia Rogério de Souza Pinto, nossa querida Fofão, minha querida Fofão… É com muito orgulho, muita satisfação, que todo o Brasil te dá os parabéns. Que você seja muito feliz nessa sua caminhada. Parabéns por tudo o que você fez e por tudo o que você continua fazendo pela gente. Uma levantadora que eu vi nascer, que eu vi crescer, que eu vi se desenvolver, que eu conheci a família, que foi tão importante para todos nós. Na sua humildade, na sua vontade de evoluir, na sua vontade de crescer, nos seus sonhos, na sua vontade de ser jogadora de seleção, de jogar uma Olimpíada… Conseguiu realizar muito mais, conseguiu ser uma das melhores jogadoras do mundo, conseguiu ser uma das melhores levantadoras que o mundo já viu jogar. Isso foi uma honra para todos nós que participamos da sua vida, da sua trajetória e que vimos você de perto. Parabéns por ser uma pessoa agregadora, por ter sido sempre solidária, por ter jogado toda a sua vida para o time, por ter sido sempre humilde, por carregar ‘pianos’ e ‘pianos’, pela sua responsabilidade, pelo seu senso de time, de tudo que significa amor ao esporte, amor ao vôlei. Parabéns por tocar cada bola com o seu coração. Você merece e mereceu tudo aquilo que conquistou na sua vida. O Brasil te deve muita coisa. Um grande beijo no seu coração, de um grande admirador.”

 

Bernardinho

“Eu tive a honra, o privilégio de trabalhar muitos anos com a Fofão, desde a seleção, quando ela chegou, ainda como segunda levantadora, sem as pessoas acreditarem muito, principalmente por ela ter quase a mesma idade da Fernanda, que era a titular, mas eu disse que Fofão era a minha segunda. Ela era uma jogadora importante para o grupo. Daquelas que se ouvia pouco, mas que dizia muito dentro da quadra. Sempre com uma postura de exemplo, responsabilidade, altruísmo, se dedicando ao grupo e, assim, foi crescendo, se envolvendo, amadurecendo e se tornou uma das maiores jogadoras do Brasil e do mundo, vitoriosa dentro da quadra e fora dela. Por onde passou conquistou corações, amizades, uma pessoa admirável. De uma autoconfiança enorme, sem jamais ser arrogante. Liderança sem precisar se impor através do grito. De poucas palavras, mas o exemplo arrastava as pessoas. A Fofão é uma jogadora que está no rol daquelas peças importantes que contribuíram para o voleibol brasileiro ser o que é hoje. Não digo só o feminino, e, sim, voleibol. Entrou para a história como uma das grandes, certamente.”

 

Fabiana Claudino

“O que falar de você minha amiga, minha irmã, neste dia tão especial… São 50 anos com essa carinha de 30 e essa cabeça perfeita, de onde saíam as mais lindas jogadas que o vôlei já viu. Tive o prazer nesses anos todos de jogar ao seu lado e conquistarmos muitas coisas juntas. Era fácil demais jogar com você, porque era gênio e diferenciada, um exemplo pra mim. Dona de tantas medalhas olímpicas, títulos que não acabam mais, prêmios individuais sem fim e sem dúvida uma das maiores atletas do voleibol mundial. Mas além de tudo isso, eu conheço outra Fofa, a amiga, a parceira de todas as horas, a irmã que está aí para me ajudar e torcer pela minha felicidade, a pessoa humilde e amorosa que só quem convive conhece bem. Te desejo nesse aniversário histórico muito amor, saúde, alegrias e bênçãos de Deus na sua vida. Que continue sendo exemplo para a atual e para futuras gerações, novas atletas e crianças que não te viram jogar ao vivo, mas que através da história reconhecem a sua grandeza. Te amo demais. Seja feliz!”

 

Sheilla Castro

“Fofa foi a minha maior inspiração. Tive a sorte de, na minha primeira Superliga, com 17 anos, estar no mesmo time dela. E depois continuei tendo a sorte de ganhar vários títulos ao lado dela. Fofa, você é e sempre será minha maior inspiração. Love you!”

 

Walewska Oliveira

“Falar sobre a Fofa é falar da geração que está guardada no meu coração. Fofão liderou uma geração campeã em que eu pude vivenciar e compartilhar muitos momentos. Sinônimo de comprometimento e profissionalismo, soube silenciosamente conduzir a profissão com perfeição. Exemplo de atleta, completando 50 anos de muita história e vitórias. Que Deus te dê muita saúde pra continuar trilhando seu caminho de luz. Parabéns!”

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Curiosidades:

  • O pai da ex-levantadora, Sebastião, havia sido boxeador. O irmão mais velho, Ubaldo, jogou futebol.
  • Antes jogar vôlei, Fofão praticou, de forma recreativa, salto em altura, handebol, basquete e futebol.
  • Na adolescência, suas irmãs Cláudia e Paula, mais velhas, jogavam voleibol com ela no bairro.
  • Pela TV, também na adolescência, descobriu o vôlei de Isabel Salgado e Jackie Silva, mas seu primeiro e único ídolo na modalidade foi o levantador Maurício Lima.
  • No ciclo olímpico que começou em 1989 e culminaria em Barcelona-1992, as levantadoras da seleção vinham sendo Fernanda Venturini e Ana Richa. A gravidez desta última em 1991 abriu espaço para Fofão, convocada pelo técnico Wadson Lima. No ano seguinte, Venturini, Richa e Fofão disputavam duas vagas na equipe que iria a Barcelona – Lima optou por Venturini e Fofão. Ela só deixaria a seleção entre 2001 e 2003, por não concordar com os métodos do então treinador Marco Aurélio Motta. Voltou no segundo semestre de 2003 com a chegada de Zé Roberto e despediu-se na temporada 2008.
  • Sua primeira competição pela seleção foram os Jogos Pan-Americanos 1991, nos quais o Brasil ficou com a medalha de prata, perdendo a final para Cuba.
  • Na sua primeira Olimpíada, Barcelona-1992, ainda usava o nome Hélia no verso da camisa, a exemplo da temporada de estreia. Ainda não permitiam apelidos no uniforme.
  • Ela chegou atrasada no dia da apresentação ao técnico Bernardinho, na seleção, em dezembro de 1993. Temeu pelo pior, afinal sequer o conhecia, mas o treinador foi compreensivo.
  • Desde a aposentadoria, em 2015, Fofão atuou várias vezes como comentarista. Na Rio-2016, fez parte da equipe do SporTV. Em Tóquio-2020, vai comentar pelo canal BandSports, mas não irá ao Japão, ficará no estúdio, em São Paulo.
  • Em 2018, lançou sua biografia: Toque de Gênio – A história e os exemplos de Fofão, escrita por Katia Rubio e Rodrigo Grilo, publicada pela Editora Laços.

 

Fofão e Mari durante o Pan 2007 (Silvio Ávila/CBV)

 

 

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