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Kiraly admite falhas no Mundial, concorda com dispensas no Brasil e diz que Hooker “não se encaixou”

karch kiraly

Kiraly foi assistente de Hugh McCutcheon de 2009 a 2012 e assumiu a seleção em 2013 (Fotos: Divulgação/FIVB)

 

Por Sidrônio Henrique
30 de abril de 2019

 

Karch Kiraly atende o telefone. São 6h30 na costa oeste dos Estados Unidos, horário sugerido por ele para a entrevista. O treinador já está no centro de treinamento da USA Volleyball (organização que administra o vôlei americano) em Anaheim, na Califórnia. Acorda todos os dias por volta das 5 horas. De sua casa em San Clemente, na região metropolitana de Los Angeles, até o trabalho são 40 minutos de carro. O técnico da seleção feminina de vôlei dos EUA conta que, no caminho, vai mentalizando o que deve fazer ao longo do dia. Kiraly procura não deixar escapar nenhum detalhe.

Pergunto se sempre foi madrugador e ele explica que “agora, mais do que nunca, é preciso trabalhar muito, se o time quiser um bom resultado na Olimpíada de Tóquio”. A meta é o ouro olímpico, uma conquista que o vôlei feminino americano não tem. O decepcionante quinto lugar no Campeonato Mundial 2018 ainda não foi completamente digerido, diz Kiraly, 58 anos, ao Saque Viagem. “Nossa recepção comprometeu o ataque, a saída de rede não rendeu como deveria e tivemos problemas também na armação de jogadas, mesmo quando o passe funcionava”, comenta.

As opostas Kelly Murphy e Karsta Lowe, com dificuldade para colocar a bola no chão, não agradaram o treinador no Mundial. “As equipes estão mais dependentes de bolas altas”. Indagado se as duas americanas que atuaram na Superliga 2018/19 não poderiam contribuir, ainda que não estejam no melhor momento de suas carreiras, Kiraly relembra que Nicole Fawcett se despediu da seleção em 2016 e é taxativo ao falar de Destinee Hooker: “Ela não se encaixou.”

O técnico campeão mundial em 2014, bronze na Rio-2016, que na época de jogador ganhou todos os títulos possíveis como ponteiro da seleção americana e foi três vezes campeão olímpico (duas no indoor e uma na praia, sendo o único a conseguir tal feito), vê o Brasil como um adversário forte, em que pese os maus resultados de 2018. “A seleção brasileira teve muitos problemas físicos na temporada passada. Várias jogadoras estavam lesionadas”, afirma o melhor jogador do século XX, eleito pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB). Para ele, os pedidos de dispensa das brasileiras são uma consequência do desgaste físico. “Todas as seleções precisam dar um descanso para as atletas. Veja o Brasil, algumas veteranas pediram dispensa, isso é natural.”

 

As americanas ficaram na quinta colocação no último Campeonato Mundial, realizado no Japão

 

Confira a entrevista exclusiva que Karch Kiraly concedeu ao Saque Viagem:

Saque Viagem – Vários jogadores e técnicos têm reclamado sobre o calendário do voleibol, levando essas críticas até a FIVB. Qual a sua opinião sobre a quantidade de jogos quando se somam as temporadas de clubes e de seleções? Como isso afeta os atletas?
Karch Kiraly – Isso traz muitas preocupações. Os atletas têm pouco tempo para descansar. Com tantas partidas, fica difícil jogar em alto nível, tanto física quanto mentalmente. Uma jogadora de alto nível, por exemplo, considerando as temporadas de clubes e de seleção, faz em torno de 100 partidas por ano. É muita coisa. Certamente essa carga cobra um preço ao corpo do atleta.

 

Saque Viagem – Você conduziu a seleção americana feminina ao título inédito de campeã mundial em 2014. O que mudou na modalidade desde então nesses cinco anos?
Karch Kiraly – Eu diria que o saque está cada vez mais forte. Como reflexo disso, as equipes estão vendo a qualidade do passe cair, ficando mais dependentes de bolas altas, vem diminuindo o número de jogadas rápidas. Muita bola sendo atacada na saída e na entrada de rede.

 

 

Saque Viagem – Com o saque mais forte, cai obviamente o nível do passe…
Karch Kiraly – Receber o saque tem se tornado cada vez mais difícil. Eu vejo as ponteiras tendo que trabalhar constantemente para melhorar a recepção. Não vou citar nomes, mas não é comum ver jogadoras que dão volume, que equilibram o passe proporcionando mais variação no ataque.

 

Saque Viagem – Antes da Rio 2016, você destacava novos talentos descobertos naquele ciclo, como a ponta Kim Hill e a central Rachel Adams, chamava a atenção para o jogo delas. Quem você apontaria como novos destaques da seleção americana neste ciclo?
Karch Kiraly – Temos algumas atletas que foram sendo reveladas aos poucos neste ciclo. Depois da Olimpíada do Rio, ganharam mais espaço a Michelle Bartsch, uma ponteira bastante sólida, e outra jogadora que é muito conhecida de vocês brasileiros, a levantadora Carli Lloyd. Essas duas cresceram muito neste ciclo, assumiram posição de destaque na seleção.

 

Lloyd foi uma das atletas que ganhou a confiança de Kiraly após a Rio-2016

 

Saque Viagem – Como avalia o desempenho do time no Mundial 2018, um quinto lugar?
Karch Kiraly – Fiquei muito desapontado, mas espero que essa sensação sirva de lição para mim e para o grupo, para melhorarmos, para evitar certos erros.

 

Saque Viagem – O que não deu certo na terceira fase do Mundial, quando enfrentaram China e Holanda, perderam os dois jogos por 3 a 2 e ficaram fora das semifinais?
Karch Kiraly – Nossa recepção comprometeu o ataque, a saída de rede não rendeu como deveria e tivemos problemas também na armação de jogadas, mesmo quando o passe funcionava. Enfim, não fomos bem, nada saiu como planejamos. Mérito também, é claro, dos nossos adversários. Nem sei se consigo responder completamente essa pergunta, ainda não digeri tudo.

 

Saque Viagem – O que aconteceu entre a Liga das Nações, quando vocês foram campeões, e o Mundial, em que o time caiu de rendimento?
Karch Kiraly – Na Liga das Nações a maioria das equipes não estava completa. A temporada é longa, já não nos sentíamos tão fortes ou confiantes no Mundial. Quando se joga tanto, por tanto tempo, a resistência das atletas é algo que precisa ser considerado. Então, quem está menos cansado vai ganhar. Isso é algo que precisamos repensar para chegar bem em Tóquio e tentar finalmente conquistar o ouro olímpico.

 

Saque Viagem – Você ficou desapontado com Kelly Murphy e Karsta Lowe na terceira fase do Mundial? Suas opostas, juntas, marcaram apenas sete pontos contra a China e depois, contra a Holanda, Murphy deixou a quadra zerada.
Karch Kiraly – Ali ficou claro que precisamos melhorar na saída de rede. De fato, elas renderam pouco, mas todo atleta tem dias ruins.

 

Apesar do Mundial abaixo da expectativa, Lowe segue com prestígio junto ao treinador

 

Saque Viagem – Quem deve começar jogando na saída de rede da seleção americana nesta temporada?
Karch Kiraly – Inicialmente, vamos com Karsta Lowe e Andrea Drews, mas outras opostas, mais jovens, devem ser testadas na Liga das Nações, que é uma competição muito longa.

 

Saque Viagem – Duas opostas americanas, Nicole Fawcett e Destinee Hooker, jogaram mais uma vez na liga brasileira esta temporada. Embora Fawcett tenha se despedido da seleção há três anos, e tanto ela quanto Hooker não estejam no auge, não poderiam contribuir de alguma forma?
Karch Kiraly – Nicole Fawcett, que é uma boa jogadora e uma boa pessoa, anunciou em 2016 que estava deixando a seleção. Ela nos serviu muito bem enquanto esteve conosco. Já a Destinee Hooker esteve no time quando eu era assistente (Hugh McCutcheon era o técnico) e não se encaixou na seleção.

 

 

Saque Viagem – Mas não valeria a pena conversar com a Hooker? Ela não poderia agregar algo mesmo como reserva, por exemplo? Ela diz que quer disputar Tóquio 2020.
Karch Kiraly – Ela não se encaixou.

 

Saque Viagem – Vocês dois chegaram a conversar depois que você assumiu a seleção em 2013?
Karch Kiraly – Nós não temos nos falado. Vamos seguir com a entrevista.

 

Hooker ficou sem espaço desde que Kiraly assumiu a seleção americana em 2013

 

Saque Viagem – A imprensa brasileira noticiou que a ponteira Sarah Wilhite vai jogar no Sesi Bauru na próxima temporada e que você a teria indicado para o técnico Anderson Rodrigues. Você confirma? O que acha de mais uma jogadora americana na Superliga?
Karch Kiraly – Não sei se ela já assinou com o clube. Essa menina ainda vai chamar muito a atenção, é uma jogadora muito inteligente. Precisa melhorar a recepção, como a maioria das ponteiras hoje em dia, mas tem um potencial incrível, tem tudo para ser uma jogadora completa. Tenho uma conversa agendada para breve com o técnico Anderson Rodrigues sobre a Wilhite, ainda não falei com ele. Não fui eu quem a indicou, mas fico feliz cada vez que uma atleta americana me diz que quer jogar no Brasil, pois a liga de vocês é muito forte, com um histórico de qualidade.

 

Saque Viagem – Quando você fala em jogadora completa, quem vem a sua mente?
Karch Kiraly – A minha capitã Jordan Larson, uma jogadora completa, com um nível altíssimo. Vocês têm a Fernanda Garay, que tem esse perfil.

 

Saque Viagem – Você comentou há pouco que suas atletas mais jovens terão vez na Liga das Nações. Como será esse rodízio?
Karch Kiraly – Todas as seleções precisam dar um descanso para as atletas. Veja o Brasil, algumas veteranas pediram dispensa, isso é natural. Em um cenário assim, você tem a chance de dar rodagem às mais jovens. Com os EUA não é diferente. Algumas das nossas mais experimentadas irão descansar em algumas etapas, enquanto as mais jovens serão testadas.

 

Saque Viagem – Quem são os pilares do time? Larson é certamente uma delas.
Karch Kiraly – Todas as convocadas têm um papel, dão sua contribuição e são importantes, mas algumas acumulam a função de conduzir o grupo. É o caso da minha capitã Larson, que você citou, e da central Foluke Akinradewo, ambas são atletas fantásticas.

 

Larson é considerada por Kiraly uma jogadora completa e uma líder da seleção americana

 

Saque Viagem – Você acabou escalando Kelsey Robinson como líbero no ano passado. Ela vem agora como ponteira ou líbero?
Karch Kiraly – Ela foi deslocada para a função de líbero devido às circunstâncias, mas agora volta para a entrada de rede. É uma jogadora completa e seu passe é algo essencial para o time. Ainda estou estudando a melhor formação, mas Robinson tem muito a acrescentar para a equipe. Aliás, embora volte à entrada, quero dizer que ela desempenhou muito bem a função de líbero.

 

Saque Viagem – Pensando em Tóquio 2020, quem são os principais concorrentes na briga pelo ouro?
Karch Kiraly – Vejo muito equilíbrio. Você tem os três primeiros do Mundial 2018, Sérvia, Itália e China. Tem também a Holanda, o Japão e o Brasil. Todas essas seleções são muito fortes.

 

Saque Viagem – O Brasil não tem jogado abaixo da expectativa?
Karch Kiraly – A seleção brasileira teve muitos problemas físicos na temporada passada. Várias jogadoras estavam lesionadas. Veja o caso da Garay e da Natália, que são excelentes atacantes, elas foram ao Mundial longe da melhor forma. Fica difícil jogar assim. Espero que todas se recuperem e que tenham uma grande temporada de seleções em 2019.

 

Saque Viagem – Vocês terão uma tarefa teoricamente fácil no pré-olímpico, quando vão enfrentar Bulgária, Argentina e Cazaquistão, em agosto, para ver quem fica com uma vaga para a Olimpíada de Tóquio. Qual a sua avaliação sobre os oponentes?
Karch Kiraly – Vamos jogar em casa (na cidade de Shreveport, na Louisiana) e temos que confirmar o favoritismo. A Bulgária tem algumas jogadoras muito perigosas, as enfrentamos recentemente no Mundial, ganhamos com facilidade, mas sabemos que elas podem jogar muito melhor do que naquele dia. A Argentina é um time que vem se estruturando, a segunda melhor equipe da América do Sul, depois do Brasil, com algumas jogadoras experientes. Ainda não sei muito sobre a seleção do Cazaquistão, mas é cedo, temos tempo até lá.

 

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