Nikola Grbic sobre o Pré-Olímpico: “Vai ser complicado, mas vamos com tudo”
O treinador Nikola Grbic assumiu o cargo de técnico da Sérvia em 2015 (Fotos: Divulgação/FIVB)
Por Sidrônio Henrique
6 de agosto de 2019
Quando conduziu a Sérvia ao título da Liga Mundial de 2016, o técnico Nikola Grbic disse que sentiu um sabor amargo. Dali a 19 dias começariam os Jogos Olímpicos e sua seleção não participaria do torneio de voleibol masculino. Ele utilizou a conquista para motivar os atletas no ciclo seguinte, fazendo-os crer que não deixariam de estar em Tóquio-2020.
Chegou a hora de tentar garantir um lugar na próxima Olimpíada. A primeira de duas chances. A tarefa não é das mais fáceis: de 9 a 11 de agosto, em Bari, na Itália, os sérvios disputam uma vaga com os donos da casa, Austrália e Camarões. “Estaremos prontos, nos preparamos para esse momento e esperamos jogar um vôlei de alto nível. Vai ser difícil, complicado, mas vamos com tudo”, afirmou Grbic em entrevista exclusiva ao Saque Viagem.
EQUILÍBRIO
“A preparação foi cuidadosa para chegarmos bem a Bari, porém esse é um dos grupos mais equilibrados, conseguir a classificação não será algo tranquilo. Imagine que, depois desses Pré-Olímpicos mundiais e do qualificatório europeu, pelo menos uma seleção entre Polônia, França, Itália e Sérvia não estará na Olimpíada”, comentou o treinador. Poloneses e franceses estão numa chave em Gdansk, Polônia. Os times europeus não classificados neste fim de semana terão uma última oportunidade em janeiro, no Pré-Olímpico continental, com a participação de oito equipes e uma vaga em disputa.
Nikola Grbic faz questão de explicar o “pelo menos uma”, quando se referiu às quatro potências europeias em chaves mais fortes. É que, do lado de poloneses e franceses, também há a Eslovênia, que poderia colocar água no chope dos adversários mais cotados, dificultando ainda mais o qualificatório no início de 2020. Já no seu grupo, ele ressalta a ascendente Austrália. “Seria um grande erro nosso ficar pensando somente no confronto de domingo (11) contra a Itália. Nossa estreia, na sexta-feira (9), é contra os australianos, que têm complicado a vida de muita gente.” No encontro mais recente, na Liga das Nações, mesmo desfalcada a Sérvia venceu a Austrália por 3 a 2. Na primeira fase do Campeonato Mundial de 2018, com os dois times completos, no ginásio onde será disputado o Pré-Olímpico, vitória dos europeus por 3 a 1.
“A preparação foi cuidadosa para chegarmos bem a Bari”, diz Grbic
ITALIANOS
Mas e a Itália, que virá com força total, com o ponteiro Osmany Juantorena e o oposto Ivan Zaytsev? Da última vez em que se enfrentaram numa partida importante, na terceira etapa do Mundial do ano passado, em solo italiano, a Sérvia atropelou os anfitriões, anulando seus dois principais atacantes, vencendo em sets diretos. “Agora é diferente, não creio que joguem mal como naquela noite, em Turim. Aposto num jogo bem disputado, mas não arrisco quem será o ganhador”, avaliou.
A Sérvia não contará com a experiência do central Marko Podrascanin, que passou por uma cirurgia em maio após a ruptura do tendão de Aquiles e que permanece como dúvida até para o Campeonato Europeu, em setembro. No entanto, Grbic terá o oposto Aleksandar Atanasijevic, os pontas Uros Kovacevic e Marko Ivovic, e ainda o central Srecko Lisinac.
Zaytsev será uma das principais armas italianas no Pré-Olímpico
MUDANÇA
O quarto lugar no Mundial 2018 foi motivo de críticas em seu país, afinal a expectativa, após vitórias sobre Rússia, França e Itália, era subir ao pódio. O treinador trocou quase toda a comissão técnica para esta temporada. “Tentei trazer uma energia nova para o grupo e acho que a decisão foi acertada. Não que os antigos fossem maus profissionais, mas nós temos a obrigação de melhorar e essa mudança foi necessária”, observou Grbic.
A Liga das Nações de 2019 foi utilizada para dar experiência aos mais jovens – a equipe terminou numa modesta 13ª posição entre 16 países, com cinco vitórias (uma delas sobre o Brasil, por 3 a 2) em quinze jogos. O primeiro teste para valer este ano vem agora.
Na preparação para o Pré-Olímpico, jogando em casa, na capital Belgrado, a Sérvia enfrentou duas vezes a Bulgária (adversária do Brasil), ganhando uma e perdendo outra, ambas pelo placar de 3 a 2. De 1 a 3 de agosto, em Cracóvia, participou do Memorial Hubert Wagner, competição amistosa anual realizada na Polônia, vencida desta vez pelo Brasil. Os sérvios ficaram em terceiro, ganhando apenas da Finlândia (3-1), perdendo para a Polônia (1-3) e o Brasil (0-3).
O ponta Uros Kovacevic em ação contra a Itália no Campeonato Mundial de 2018
OURO E BRONZE OLÍMPICOS
Ex-levantador, um dos melhores de sua geração, Nikola Grbic é, ao lado do irmão Vlad (ex-ponteiro, MVP de Sydney-2000), um dos grandes nomes do esporte da Sérvia, uma pequena nação dos Bálcãs, no leste europeu, que fazia parte da antiga Iugoslávia, dissolvida no início deste século. Apesar de contar com apenas 7 milhões de habitantes, o país é pródigo em revelar talentos em diversas modalidades esportivas. Mas foi ainda sob a bandeira iugoslava que faturou uma medalha de bronze em Atlanta-1996 e alcançou o tão sonhado ouro em Sydney-2000. Subiu ao pódio mais de uma dezena de vezes em outras grandes competições.
Para se ter uma ideia de sua importância na Sérvia, ele parou de jogar em 2014 e já no ano seguinte assumiu o cargo de técnico da seleção, tendo apenas uma temporada de experiência na função, à frente do clube italiano Perugia. Nos últimos três anos, esteve no comando do italiano Verona. No período 2019/20 será treinador do Zaksa Kedzierzyn-Kozle, atual campeão polonês.