Olha o respeito, Ngapeth!
Ngapeth ficou preso por uma noite em Minas após ser acusado de assédio (Divulgação/FIVB)
Por Vanessa Kiyan
10 de dezembro de 2019
Earvin Ngapeth descobriu da pior maneira que o Brasil mudou. Aquele país visto lá fora como o território das mulheres objetificadas é também o país que não tolera mais assédio.
Tudo ficou diferente depois de abril de 2017. Um caso de assédio envolvendo um dos mais prestigiados atores do país, José Mayer, para com uma figurinista da novela “A Lei do Amor”, uniu as mulheres em um movimento jamais visto. Ali, entendeu-se que encostar em uma mulher, sem consentimento, não era mais tolerável. Era abusivo. Era machismo. Era errado. Era crime.
A campanha denominada “Mexeu Com Uma Mexeu Com Todas” foi encabeçada pelas próprias colegas de Mayer e abraçada pelas anônimas. A mulher ganhava, enfim, voz. Pressionada pela sociedade e pelas funcionárias mulheres, a Rede Globo pediu desculpas pelo episódio. Depois, demitiu o ator. Já Mayer, condenado pela opinião pública, sumiu.
Ao ser preso na madrugada dessa segunda-feira (9), depois de ser acusado por uma mulher de importunação sexual em uma boate em Belo Horizonte (MG), Ngapeth alegou que dar tapas nos glúteos é um ato comum entre amigos na França.
Dentro do combo fama e poder, certamente, achou que fosse passar impune. Não imaginou que mexer com uma mulher em uma festa, dentro do Brasil, fosse lhe render uma das maiores vergonhas da carreira. De gênio do voleibol, virou presidiário em uma penitenciária de Contagem (MG), onde passou uma noite ao lado de outros 12 presos. A notícia logo correu o mundo.
O francês deve se juntar ao Zenit Kazan para a estreia na Liga dos Campeões (Foto: Zenit)
Só o Zenit Kazan-RUS, clube onde o francês joga desde a última temporada, ignorou o caso de assédio. Sequer se desculpou com seu público feminino. Em seu site oficial, que possui uma versão em inglês, e nos perfis das redes sociais, a única preocupação é informar a torcida sobre o compromisso dos russos na rodada desta quarta-feira (11) da Liga dos Campeões.
Ao que tudo indica, Ngapeth será mantido no grupo após a acusação. Tanto que o gigante do voleibol europeu espera contar com o atacante para o compromisso com o VC Greenyard Maaseik, na Bélgica. O atleta deixou o Brasil nesta terça-feira (10), após pagar fiança de R$50 mil, e retornou para a Europa. O processo será respondido em liberdade.
Ao dar de ombros para um assunto tão grave, e que ganhou repercussão mundial, a equipe de Vladimir Alekno perdeu uma grande oportunidade de dar uma lição ao mundo: as mulheres devem ser respeitadas, assim como os seus direitos. O Brasil, ao menos, passou o seu recado: não é não. Sempre.
Por trás de um grande time há grandes atitudes. Até onde vale proteger um agressor para se conquistar resultados dentro de quadra?