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Saque flutuante revela problema técnico na seleção masculina

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Leal passa, observado por Thales e Lucarelli (Fotos: Divulgação/FIVB)

 

Por Sidrônio Henrique
16 de julho de 2019

 

Mais uma vez o Brasil foi o quarto colocado na Liga das Nações. Como no ano passado, o time foi irregular na fase final e não subiu ao pódio. Desta vez, a linha de passe foi o foco dos problemas, especialmente ao se deparar com o saque flutuante.

Porém, antes de comentar a dificuldade técnica do Brasil na recepção, vale destacar o que é a Liga das Nações. Um torneio secundário, com calendário massacrante, que é visto pela maioria das potências como uma forma de dar rodagem aos novos talentos, fazendo um rodízio. Ao que parece, para a seleção brasileira, é tão expressivo quanto qualquer outro. O grupo contava com os titulares quase o tempo todo, à exceção da ausência do levantador Bruno nos dois primeiros fins de semana e de Wallace no quinto, quando a vaga nas finais já estava praticamente assegurada.

Se é tão relevante, é estranho que a equipe chegue ao momento decisivo com falhas que foram exploradas à exaustão pelos oponentes – ressalte-se que perderam duas vezes para o time B da Polônia, uma delas em sets diretos.

É importante mencionar que, ao contrário de 2018, quando os comandados do treinador Renan Dal Zotto enfrentaram um giro pelo mundo antes das finais, este ano as duas últimas etapas classificatórias foram no Brasil, reduzindo o desgaste.

 

 

MUSCULAÇÃO
Quem viu a seleção em quadra na Credit Union 1 Arena, em Chicago (EUA), percebeu uma equipe mais lenta. Isso pode ser explicado, em parte, pela carga intensa de treinamentos físicos visando ao Pré-Olímpico, em agosto. A musculação em doses elevadas reduz a mobilidade e, consequentemente, a agilidade. Isso, se confirmado, explicaria a oscilação no ataque e o rendimento pífio do bloqueio.

Bom, vamos ao passe. Se observarmos os três medalhistas, veremos que tanto Rússia (ouro), Estados Unidos (prata) e Polônia (bronze) tinham uma linha de recepção mais sólida do que a brasileira.

Do lado do Brasil, geralmente se recebia o saque flutuante de manchete, quando os ponteiros adversários muitas vezes optavam pelo toque nessa situação, mantendo maior regularidade.

Na evolução do serviço, ele tem ficado cada vez mais veloz e potente. Há saques viagem que comumente ultrapassam a marca de 110 km/h – há registros acima de 130 km/h, embora raros. É um míssil, mas sua trajetória em linha reta ajuda, em tese, o encaixe na manchete – a menos que seja extremamente bem colocado, impedindo o controle de bola, ou que o passador esteja mal posicionado. O fã de vôlei certamente lembra do oposto italiano Ivan Zaytsev e seus petardos na virada sobre os EUA na semifinal da Rio-2016.

 

O ponta russo Egor Kliuka recebe um flutuante de toque

 

VARIAÇÃO
Já no flutuante a tônica tem sido a variação. Na hora de executar o serviço, procura-se esconder o movimento, sem demonstrar se o saque virá com efeito ou chapado. A escolha vai depender da composição da linha de passe diante de si. Some-se a isso a velocidade. Há quem faça o flutuante chegar a 80 km/h. Um ótimo exemplo é o central polonês Mateusz Bieniek, que não disputou as finais, mas cujo desempenho no fundamento costuma ser excelente. Entre os presentes em Chicago, atenção para o compatriota dele Karol Klos e o americano Jeffrey Jendryk, ambos também meios de rede.

O leitor provavelmente vai se perguntar como pode um serviço a 80 km/h ser mais ameaçador do que um a 110 km/h? No caso do viagem (por sinal uma invenção de 1979 do então ponteiro Renan Dal Zotto), favorece ao passador a maior distância e o fato da bola vir em linha reta, conforme mencionado acima. Se sequências como aquela de Ivan Zaytsev são memoráveis é porque não são tão comuns.

De acordo com a habilidade do sacador, a trajetória do flutuante pode ser uma incógnita. O movimento é diferente do viagem, com os jogadores saltando até dois metros após a linha, ficando mais próximos da rede. Isso dificulta a leitura de quem recebe. Imagine o golpe, com efeito ou chapado, sendo escondido até a execução, diminuindo o tempo de reação dos passadores. Tenha em mente que, por ser menos potente, esse tipo de serviço permite maior direcionamento. Os aces aqui não são constantes, mas a quebra de passe, como ocorreu com o Brasil há poucos dias, minam o ritmo de jogo.

Em resumo: o flutuante pode não ser tão pesado quanto o viagem, mas oferece menos risco ao sacador e, se bem executado, pode neutralizar o adversário.

 

O central polonês Karol Klos com seu saque flutuante

 

PROBLEMA RECORRENTE
Feitas as explicações, seguem as perguntas: se os principais oponentes contornam esse problema, por que não o Brasil? Será que o posicionamento da linha de passe está devidamente ajustado? Por que insistir tanto na manchete para receber o flutuante?

É bom que se diga, não foi somente nas finais que a linha de recepção brasileira esteve no fio da navalha. Na primeira semana da Liga das Nações, o Brasil vencia a Austrália por 2 sets a 1 e tinha oito pontos de vantagem no quarto set, quando tomou a virada na parcial e quase perdeu o tie-break por problemas no passe.

Naquela mesma etapa, foi presa fácil da Polônia no primeiro set, com o flutuante desmantelando a recepção brasileira. Depois, sem sacar com eficiência, os poloneses foram derrotados.

Diante da Sérvia, na terceira semana, na única derrota brasileira na fase de classificação, a virada sofrida no tie-break veio a partir do flutuante dos oponentes.

Lembrem da semifinal, contra os EUA. O técnico John Speraw tirou o central David Smith, que tem um viagem afiadíssimo, e colocou em quadra Jeffrey Jendryk, com seu flutuante que sacramentou a vitória americana no set decisivo.

Não é a primeira vez que esse problema atormenta a seleção brasileira. No Campeonato Mundial 2014, o líbero Mário Júnior passava sem maiores dificuldades as pedradas de grandes sacadores do viagem como o polonês Mariusz Wlazly, o alemão Georg Grozer e o búlgaro Tsvetan Sokolov, mas claudicava diante de diversos flutuantes. Ele e o na época ponta Murilo tinham a missão de cobrir o máximo possível o outro ponteiro, Lucarelli.

 

O americano Jendryk entrou na semifinal e, com o flutuante, fez estrago na recepção do Brasil

 

DISTRIBUIÇÃO
No caso do Brasil desta temporada, a distribuição das zonas de passe entre os dois ponteiros e o líbero Thales Hoss a cada rotação acabou não funcionando bem. Mesmo na vitória contra o Irã, única partida vencida pelo Brasil em Chicago, houve muitos erros.

Thales, melhor passador da fase de classificação, teve maus momentos na etapa final. Entre os quatro ponteiros, apenas Maurício Borges, supostamente a quarta opção, é considerado um especialista no fundamento. Mesmo quando ele estava em quadra, o Brasil sofreu. Claro, some-se a isso a questão física, já apontada, e o desânimo do time, tão evidente na disputa da medalha de bronze.

 

A linha de passe brasileira comprometeu o desempenho da equipe

 

OUTROS CONTRATEMPOS
Na saída de rede, Wallace, com um histórico de respeito, rendeu menos do que de costume na Liga das Nações. O promissor oposto Alan foi subutilizado nas finais. Se o levantador Cachopa tem pouca experiência internacional, o veterano Bruno parecia ainda não ter se acertado com a equipe, oscilando nas bolas mais longas, um velho problema. O bloqueio rendeu abaixo do esperado. São aspectos que fazem a diferença e que deverão ser ajustados até o Pré-Olímpico.

De 9 a 11 de agosto, em Varna, na Bulgária, o time disputa uma vaga para os Jogos Olímpicos com os donos da casa, além do Egito e de Porto Rico. O Brasil é o favorito e o maior temor é justamente o saque búlgaro. Os anfitriões têm um voleibol limitado, mas já derrotaram os brasileiros em algumas oportunidades apoiados em seu serviço.

A seleção principal terá mais adiante o Sul-Americano e a Copa do Mundo. Antes, uma equipe B representará o país nos Jogos Pan-Americanos. No entanto, a grande preocupação após o Pré-Olímpico é que tudo esteja no lugar para Tóquio-2020.

 


A principal arma da Bulgária no Pré-Olímpico será o saque

 

 

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