Garay destaca ‘sentimento de luta’ e Paulo Coco aponta velocidade do Minas
O primeiro jogo da série melhor de três da final entre Dentil/Praia Clube e Itambé/Minas será na quinta-feira (1/4), às 20h, no CDV (Centro de Desenvolvimento de Voleibol), em Saquarema (RJ)
O Praia Clube, de Fe Garay, venceu o Osasco na semifinal (Wander Roberto/Inovafoto/CBV)
Áudio completo da entrevista coletiva de Paulo Coco e Fernanda Garay
Na véspera da decisão da Superliga feminina 2020/21, o técnico Paulo Coco e a ponteira Fernanda Garay participaram de uma coletiva de imprensa em que comentaram sobre o confronto entre Dentil/Praia Clube e Itambé/Minas. No evento virtual, organizado pela CBV (Confederação Brasileira de Voleibol), os dois integrantes do time de Uberlândia projetaram o duelo contra o minastenista. O primeiro jogo da série melhor de três que definirá o campeão da temporada está marcado para essa quinta-feira (1/4), às 20h, no CDV (Centro de Desenvolvimento de Voleibol), em Saquarema (RJ).
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Depois da primeira partida, na quinta-feira (1/4), Minas e Praia voltam a se enfrentar pelo segundo jogo do playoff no próximo sábado (3/4), às 21h. Em caso de empate no confronto, o terceiro e decisivo está marcado para segunda-feira (5/4), também às 21h. Essa será a segunda final de Superliga entre os clubes. Na temporada 2018/19, o time minastenista foi campeão ao derrotar o de Uberlândia duas vezes. Confira abaixo alguns trechos da entrevista de Paulo Coco e Garay e, em áudio, o material completo.
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Há dois anos a final da Superliga foi entre Minas e Praia. Qual a diferença de dois anos atrás para agora?
Paulo Coco: “Acho que é diferente. São duas temporadas e elencos distintos. E esse ano também foi atípico por causa da pandemia, isso em termos gerais e no cuidado com as jogadoras e a preparação, com adaptações ao longo do ano. Na época, foram dois jogos muito duros. A gente perdeu a Fernanda no primeiro jogo no final do primeiro set e ela fez falta para a gente naquele momento. Mas acho que isso faz parte do passado. É muito bacana estar em mais uma final nesses quatro anos que estou no Praia. No primeiro ano, a gente conquistou e no ano que não terminou a gente acabou a fase de classificação em primeiro. Então, foram desempenhos muito bons. E o vôlei mineiro sempre com jogos importantes. É uma rivalidade sadia que se construiu ao longo desses anos entre duas das principais equipes do Brasil”.
Garay: “Há dois anos eu lamentei muito porque fiquei de fora. Eu lembro muito bem e meu sentimento foi de que, quando o jogo começou a ficar bom, me machuquei. E foi uma lesão muito sofrida porque foi no melhor momento do campeonato. Já nesse ano, só o fato de estar aqui e poder participar e, de alguma forma contribuir com a equipe, particularmente, faz toda a diferença para mim”.
Tecnicamente como você vê sua equipe chegando para essa final por todas as circunstâncias que as equipes viveram devido à pandemia?
Paulo Coco: A equipe chega na sua melhor forma. Acho que a gente chega bem. Passamos por algumas dificuldades durante o campeonato, mas nos playoffs a equipe está se encaixando. A gente se adaptou bem às perdas de jogadoras e, graças a Deus, está com todo mundo bem em termos de saúde, que está em primeiro lugar. Fisicamente, acredito que as atletas chegam em suas melhores condições e a gente planejou para tentar chegar dessa maneira. O time está mais equilibrado, se conhecendo melhor e entendendo a maneira de jogar e suas características. Dependendo das jogadoras que estão na quadra existem situações diferentes e características de jogo. E a gente tem feito isso, principalmente nessa reta final. Claro que passamos por dificuldades, pois tiveram muitas equipes qualificadas que brigaram nessa Superliga que, para mim, é a mais disputada de todos os tempos, com número maior de equipes brigando em todos os estágios da classificação. A gente chega nesse momento, no qual todo mundo queria estar, buscando o tão sonhando bicampeonato para o Dentil/Praia Clube. A gente acredita muito nisso e estamos trabalhando para que isso aconteça.
Como será fazer uma final mineira sem a presença da torcida?
Garay: Ao longo dessa temporada a gente veio se adaptando a não contar com a torcida, não só a favor, mas também a adversária. De fato faz toda a diferença e a gente sente bastante falta, principalmente agora na fase final com jogos importantes e decisivos. É impossível não lembrar da temporada 2017/18 e daqueles jogos que fizemos que foram emocionantes. A gente sente bastante falta, mas está se adaptando e temos que ficar contentes porque estamos conseguindo realizar essa fase final de uma forma segura. E acho que isso é o mais importante. Com certeza, independente de não ter a torcida, dentro da quadra teremos muita briga, disputa e uma rivalidade natural de uma final de Superliga.
O adversário extremamente competente e conhecido que, além da bola de segurança com as centrais, passou a utilizar a bola acelerada também com as extremidades. Além de contar com o saque para diminuir essa precisão da Macris, que consegue acionar essa bola de velocidade até com passe B, como armar o seu bloqueio: fechado para manter ajuda das extremas nessa bola centralizada ou aberto para fazer uma marcação mais individualizada nessa situação de um jogo extremamente veloz?
Paulo Coco: O ponto que você tocou é a característica principal do Minas, adotado principalmente nessa temporada, que é a velocidade. As centrais são muito efetivas e, como você disse, não só elas, mas as extremidades também jogando com muita velocidade. E isso exige uma atenção ainda maior da nossa parte. O saque é um fundamento importante nesse contexto, pois temos que tentar fazer com que a Macris não receba essa passe na mão o tempo inteiro para minimizar a questão da velocidade das opções. A gente sabe que não é fácil porque eles possuem uma linha de passe equilibrada, mas também precisamos montar um sistema defensivo que não dependa só do saque.
A defesa será muito importante nesse sistema. Muitas vezes a gente não vai conseguir chegar com o bloqueio equilibrado e a defesa terá que compensar essa situação. E tentar também posicionar o bloqueio de uma forma para dificultar a principais ações deles será fundamental. Você vê que não é fácil pela quantidade de coisas que a gente falou aqui que teremos que fazer com qualidade. Mas estamos treinando e a equipe vem respondendo nesse sentido de velocidade. O Minas é uma equipe que se assemelha ao São Paulo/Barueri na velocidade, pois também jogam com uma velocidade muito grande nas extremidades. Lógico que tem suas diferenças, obviamente não existe comparação. É questão de adaptação aos movimentos que teremos que fazer na velocidade que o time do Minas exige. A atenção será muito grande e a gente precisa focar no nosso jogo e no que podemos fazer de melhor.
Qual principal fator e qualidade que você poderia mencionar do grupo do Praia para sair vitorioso nessa final?
Garay: Eu destaco, certamente, a coletividade. A gente mostrou ao longo desses jogos o quanto é importante o trabalho coletivo. É claro que, em determinado jogo alguma jogadora se destaca, mas o que é indiscutível dentro de uma partida é que o trabalho é sempre feito coletivamente. Outra coisa que tenho que destacar é que, nos momentos de maior dificuldade, a gente nunca desistiu, esse sentimento de luta o tempo inteiro.
Como é trabalhar o lado mental das meninas, da equipe de forma geral, até porque vão enfrentar um adversário que não venceram na temporada?
Paulo Coco: Nessa temporada a gente tem um desafio muito grande. Como você disse, não conseguimos vencer a equipe do Minas ainda. A gente sabe da nossa capacidade e em alguns jogos tivemos essa possibilidade. Acho que a final da Copa Brasil foi um jogo que qualquer um dos dois poderia ter vencido. E nós tivemos a possibilidade no jogo do segundo turno, apesar da Cuttino ter se machucado no primeiro set, de ter fechado o jogo tanto no terceiro quanto no quarto set. Então, a gente sabe que tem uma equipe que pode vencer o Minas apesar de não ter acontecido, muito por méritos deles, que é uma equipe muito equilibrada, mas acredito na nossa equipe e que temos condições de vencer.
Já passei por essas situações em outras equipes quando, na época, a gente não tinha vencido também e, na final, conseguimos vencer. Um exemplo ocorreu na temporada 2004/05, com a decisão entre Osasco e Rio, quando o Zé Roberto era o treinador e eu era o auxiliar do Osasco. Nós tínhamos perdido todos os jogos da fase de classificação e na final a gente conseguiu vencer uma melhor de cinco em três jogos. O esporte propicia isso. Ele te dá uma nova oportunidade. Apesar de todo campeonato que o Minas fez e do provável favoritismo nessa final, nós sabemos que podemos vencer, acreditamos nisso e vamos trabalhar para que isso aconteça.
O histórico contra o Minas pesa e incomoda nessa final e de onde pode vir essa força, que foi vista contra Osasco e Barueri, para conseguir resolver essa parada e trazer o bicampeonato para Uberlândia?
Garay: Acredito que incomoda o fato de não termos conseguido vencer, mas, como o Paulinho disse anteriormente, a gente esteve muito próximo disso e é nisso que a gente precisa acreditar. Todas as vezes que a gente entrou em quadra a gente entrou para ganhar. Agora é uma final e todos os momentos bons e difíceis de alguma forma agregaram e nos fizeram chegar até aqui mais fortalecidos. Nesses desafios (contra São Paulo/Barueri e Osasco) a gente conseguiu se fortalecer ainda mais e mostrar a nossa força coletiva. E é dessa forma que acredito que a gente encara essa final. Não ganhamos, mas a gente sabe que pode ganhar e tem que acreditar nisso do início ao fim. São três possibilidades e a gente acredita que pode conseguir.
Paulo Coco: Nenhuma glória passada te garante nada no futuro, portanto, o que aconteceu ficou para trás. A gente tirou os aprendizados necessários dos acontecimentos, de todas as derrotas que tivemos. A gente tira também aprendizados mesmo vencendo, coisas que a gente não fez bem e que tem que melhorar. E a gente busca um caminho e chegamos onde a gente deveria estar e o que passou fez parte da construção desse trabalho para chegar nesse momento e ter condições de brigar pelo título. Então acredito nisso. O envolvimento de todos do projeto do Dentil/Praia Clube nos dá a possibilidade de acreditar que esse título pode voltar para Uberlândia. E vamos lutar por isso com todas as nossas forças. Essa é a nossa mentalidade nesse momento.
No nosso programa “Mais Vôlei, Por Favor”, o comentarista Cacá Bizzocchi disse que o Sesi Bauru mostrou como jogar com o Minas, no caso, além do saque forçado, utilizar bastante as centrais para prender Thaisa e Carol Gattaz com elas, dificultando o deslocamento delas às extremidades. O jogo do Minas com o Sesi Bauru pode ter acrescentado algo aos estudos que vocês já tinham?
Paulo Coco: A gente precisa aprender e tirar essas lições para trazer para cá. Brincadeiras a parte, acho que tudo é um aprendizado. São caminhos. A gente chega nesse momento e as equipes se conhecem muito, se estudam, e os detalhes são muito significativos. A gente já falou um pouco da importância do fundamento saque e do sistema defensivo para neutralizar a força deles. E, obviamente, o equilíbrio do sistema ofensivo, pois é o que você citou do Cacá, é preciso ter um passe equilibrado para as centrais prenderem as situações. O Minas não é uma equipe só de ataque. Eles possuem um bloqueio e sistema defensivo muito fortes. É uma situação obviamente muito importante termos as nossas centrais no jogo para abrir espaço para as ponteiras. E o voleibol é muito isso. A procura dessas espaços, abrir e fechar em função do que está do outro lado. E é a qualidade dos fundamentos que te possibilita executar essas situações táticas com eficiência. Essa é a briga de xadrez do voleibol. Não tenha dúvidas que o Sesi Bauru fez coisas interessantes contra o Minas. Temos que fortalecer os nossos pontos fortes. A gente sabe que em uma final o algo a mais faz parte do contexto. O jogo coletivo será preponderante, principalmente para quem conseguir executar seu plano tático da maneira mais eficiente.
Fe Garay você tem uma carreira consistente em alto nível e a cada ano agregando valores em todos os fundamentos e em liderança. Qual segrego para se manter em alto nível esse tempo todo?
Garay: Não tem muito segredo não. Na verdade é tentativa e erro. Isso acontece bastante no esporte e a gente não sabe qual é o resultado final. A gente sempre trabalha acreditando que no final vai dar certo. No início dessa temporada eu passei a fazer um trabalho diferente. O fato de estar em casa na quarentena me permitiu fazer algo diferente. Nós atletas temos uma memória daquilo que funcionou e nos apegamos muito a isso acreditando que sempre vai dar certo. Mas eu tenho aprendido que, ao longo dos anos, a adaptação e trazer coisas novas para o meu trabalho físico é essencial e foi o que me propus a fazer nessa temporada e fisicamente acredito que deu muito resultado.
Sinto que na quadra eu consegui agregar em muitas coisas. Vou fazer 35 anos e meu condicionamento físico é essencial. Talvez seja a coisa mais importante para eu ter condições de jogar no nível que é exigido. Com relação a liderança, eu acredito que não mudei muito. A minha vontade de ganhar e de fazer meu melhor dentro da quadra se mantém. Talvez tenha agregado mais maturidade e coisas relacionadas ao meu preparo mental. Porém, o desejo pela vitória e de contagiar a equipe dentro de quadra sempre foi um dos meus objetivos.
GOLDEN SET #12 – PRAIA X OSASCO E SESI BAURU X MINAS